O Curioso Caso de Maria Aldenete


Maria Aldenete tem 29 anos, mas um corpo de criança de oito meses. O dente ainda é de leite, o cabelo ainda é o mesmo de quando nasceu. Moradora da comunidade de Muquém, municípido de Caucaia,na região metropolitana de Fortaleza, Maria Aldenete passou todos esses anos praticamente isolada. Sofrendo de disfunção hormonal por problemas na tireóide, ela envelhece num corpo de criança.
O que mais me impressiona neste caso, é o completo abandono pelo qual essa família passou por todo esse tempo. Foi preciso programas televisivos sensacionalistas usarem a história dela para poder ser feito alguma coisa, e isso depois de 29 anos porque se ela tivesse tido acesso a um tratamento de reposição hormonal, teria crescido, falaria.
Reproduzirei na íntegra o texto da repórter Ana Mary C. Cavalcante, do Jornal O Povo de Fortaleza,publicado na edição desta quarta-feira, vale a pena ler e refletir:
"Não foi fácil ir até onde Maria Aldente está. Há caminhos frágeis e sinuosos até Muquém. É necessário um cuidado constante, palavra por palavra, para não derrapar em um jornalismo sensacionalista e inútil. É indispensável, sempre, ser cuidadoso ao entrar na casa das pessoas que têm uma vida de taipa.
Aldenete não é apenas a menina que não cresceu, ou " a menor mulher do mundo" ( como quer um programa de televisão local). Aldenete é a criança que não correu, a moça que não foi desejada, a mulher que não houve. E poderia ter havido.
Muquém está encravada nos cafundós de Caucaia, no meio do mato, é verdade. Mas é fato também que está ali, na região metropolitana da quinta maior capital do país. O curioso caso da jovem de Muquém chama a atenção, principalmente, para o descaso do poder público.Ela não teve acesso à saúde, é o diagnóstico mais desumano que ouvi em toda essa história. A prefeitura local diz não ter suporte para tratamento adequado, e a população acaba por eleger apresentadores de TV como presidentes da república ( em letra minúscula mesmo).
Alguém vem dar casa. Outra emissora leva até o hospital. E quem vai ensinar o agricultor a pescar? Quem vai ensinar seu Mundico e dona Dôra a entender seus direitos? Que se dê a casa, é preciso ( e urgente). Que se possibilite o tratamento (é vital). Mas eles vão continuar pedindo à televisão. Porque ainda vão faltar o caminho para seu Mundico, a infância para Tamires, o mundo-do-lado-de-lá--asfalto para Nira.
Cabe ao poder público o mesmo cuidado que o jornalismo deve ter, pessoa por pessoa. cabe ao estado brasileiro garantir a moradia, saúde e vida para todos. É preciso, por exemplo,assegurar uma escola para Tamires, 5 anos, para que ela também não envelheça sem crescer, como a irmã. Quanto a Aldenete, meu Deus, que um dia ela consiga dizer que está com fome.
Enacara Aldenete não é fácil. É desconcertante vê-la sorrindo. Não porque ainda tenha dentes de leite e um corpo que não era para ser seu, que não lhe cabe. Não. É difícil encara Aldenete porque ela é a imagem de um Brasil que, aos 509 anos, não se desenvolveu da maneira que era para ser. E não se sabe se tem jeito."
E muitas Aldenetes ainda vivem por aí, escondidas em mundos que não passam na tela da TV, e que podem estar bem perto de nós.
Que absurdos como esse naõ sirvam para que entendamos o quanto inúmeros irmãos precisam de nossa ajuda para poder sorrir dignamente.

amilton

Doces, Doces e Doces


Nosos valores são moldados diariamente, seja na convivência no lar, seja na escola, seja nas relaçoes no trablaho, enfim, estaremos sempre adquirindo novos valores, e mudando sempre.
Assimilar novos conceitos e novos hábitos é extremamente necessário para nos posicionarmos diante do mundo, diante de nosso mundo, de nossa vida cotidiana. Esse valores e hábitos quanto mais saudáveis melhores para cada um de nós. As noções básicas de higiene bucal devem ser iniciadas no lar, e dessa forma os pais devem dar exemplos a serem seguidos. Na prática, na grande maioria, não funciona bem assim. Muitos pais não cuidam como deveriam da saúde bucal de seus filhos, talvez não tiveram acesso a informação e não praticam bons hábitos de higiene bucal. Os filhos, então, não veem diariamente o exemplo do bom uso da escova, do fio dental, da alimentação saudáveis etc etc. Muitos ainda estão à margem de toda informação, e alguns quando possuem acesso fácil a uma variedade de informações não aplicam devidamente, não praticam.
Uma mãe tentava desesperadamente fazer com que sua filha de seis anos entrasse no consultório odontológico para consulta, mas a garotinha não mostrava interesse algum, e chorava, e chorava... Foi então que,subitamente, a mãe começou a falar alto,"-Filha, vamos entrar no consultório,quando sairmos daqui mamãe vai comprar muitos chicletes e pirulitos pra você..."".A garotinha calou-se, silêncio total, e ficaram paradas as duas na porta do consultório, e eu sem acreditar naquilo tudo, de boca literalmente aberta. A garotinha entrou, sentou na cadeira, e começamos a conversar. Separadamente conversei com a mãe e expliquei a importância de estimular uma alimentação saudável, e não o consumo exagerado de doces e balas,principalmente na porta do consultório. Vejo muitos pais e escolas estimulando o consumo de doces exageradamente,sem regras,vendidos na cantina da escola,consumidos na sala de espera do consultório.Certa vez ,eu distribui escovas e creme dental numa escola, além do trabalho educativo,e no dia seguinte o pessoal da ação social passou distribuindo chicletes, pirulitos. No dia das crianças, muitas escolas distribuem como presentes sacos e mais sacos de chicletes,pirulitos. Conversar, explicar para todos a importância de uma alimentação saudável para evitar a doença cárie,e estimular hábitos saudáveis são estratégias que devem ser constantes na rotina de trabalho,mesmo nos deparando com casos como o citado anteriormente. Mas se começarmos desde cedo possivelmente teremos um geração bem mais consciente.

amilton

A Invasão do Consultório


Quantos caminhos podemos seguir sem sair da rota traçada?
Quantos personagens personificamos diariamente?
Qual o nível de lucidez aceitável?
E o que é normal?
Muitas perguntas podem ser levantadas, poucas respostas poderão ser colocadas diante de nossas incansáveis dúvidas, que muitas vezes nos deixam extasiados no meio do caminho. Muitas vezes sofremos com inúmeras dúvidas, com medos que não nos levarão a lugar nenhum, a não ser percorrer rotas mais longas, caminhos mais tortuosos. No final, poderemos chegar marcados com "manchas" de insensatez, de vazios que não foram preenchidos, de tempos que foram inutilmente perdidos...
Já falei algumas vezes sobre loucura, e inúmeros pacientes já "surtaram" na minha frente, já me colocaram em situações das mais inusitadas. Incrível como ,muitas vezes, a imagem não quer dizer simplesmente nada,absolutamente nada, e realmente o que importa é o conteúdo.
Há cerca de vinte dias atrás, um rapaz de aproximadamente 28 anos, que já havia sido atendido no consultório e que sempre o víamos como uma pessoa "normal",invadiu o consultório numa noite de sexta-feira. Pois é, ele chegou extremamente alterado, foi lgo entrando, empurrando a mãe de uma pequena paciente que estava sendo atendida. Por sorte ele me encontrou num dia em que eu estava numa paz tremenda, numa calma franciscana. E ele foi logo gritando,falando que eu tinha que atendê-lo etc etc. Olhei pra ele calmamente, confesso que ele me assustou um pouco, os olhos dele diziam muito, não parecia ser a mesma pessoa que conhecíamos, literalmente parecia se tratar de outra pessoa.O ódio estava estampado na cara dele. Falei que poderia atendê-lo,mas somente após todos os outros pacientes serem atendidos, então eu o atenderia. Ele saiu,e a mãe da paciente já assustada, a criança começou a chorar desesperadamente, gritava,gritava, e a auxiliar já cogitou a possibilidade de ligar pra polícia,mas falei que não, não precisaria.Porém,minutos depois ele retorna, mais alterado ainda e nos ameaçou dizendo que teríamos que atendê-lo e saiu batendo a porta com uma força descomunal. Dessa vez fiquei nervoso,mas agora agradeço por ele não ter ficado no consultório, e ter saído correndo, não sei o que aconteceria,pois eu já tinha perdido minha "santa" paciência.
Terminamos de atender todos os pacientes e resolvemos ir até a delegacia fazer um boletim de ocorrência, e ao chegar lá descobrimos através do escrivão que o rapaz já tinha três processos contra ele,todos por agressão. Eu e a auxiliar ficamos imaginando mil coisas que poderiam ter acontecido momentos antes no consultório...
Mas o pior veio no dia seguinte, quando ao encontrar casualmente com o escrivão na rua ele me falou que o rapaz tinha sido preso na noite anterior, não por ter invadido o consultório,mas porque ao sair do consultório ele entrou numa igreja evangélica e quebrou tudo,tudo mesmo. Fiquei mais assustado ainda, e pensando que talvez a intenção dele era quebrar todo o consultório, mas como nem eu e nem a auxiliar reagimos ele saiu e foi quebrar a igreja evangélica mais próxima.
Só agora estou contando tudo isso que aconteceu numa sexta-feira, dia 5 de Junho, porque o delegado me ligou perguntando se eu gostaria de levar o processo a frente, e por coincidência cruzei com o rapaz a alguns minutos atrás, e ele parecia outra pessoa, deu bom dia e tudo e saiu sorrindo com a cara mais cínica do mundo. Daí não sei se ele é louco mesmo ,se estava com um baita de um problema, se costuma "surtar" frequentemente. Sinceramente não sei, só sei que o que ele fez não foi correto, e ainda estou na dúvida se levo o processo a frente ou não. Agora penso que ele já ficou preso uma noite, que ele precisa mesmo é de tratamento, de ajuda, e por isso não vou querer ficar frente a frente com ele num tribunal. Espero que ele não vista mais a máscara de um personagem distorcido da realidade e venha me perturbar em plena sexta-feira a noite... Não,numa sexta-feira a noite não, não é justo.

amilton

O Pé do Meu Dente II


A imaginação de Marcelo continua a mesma de sempre. Sonhar acordado faz dele um personagem de um mundo cheio de fantasias, cheio de possibilidades.
Os amigos de Marcelo nunca imaginaram um mundo aonde de dentro de suas bocas pudessem brotar árvores, que dão frutos, que são verdes, outras vermelhas, ás vezes amarelas. O mundo de Marcelo não pára, a imaginação dele vai além da solidão que ele carrega diariamente. Ele nunca disse que nos seus sonhos os dentes falam, e que fadas e gnomos o carregam para mundos distantes.
Na imaginação de Marcelo a boca está cheia de galhos, que precisam ser cuidados. As árvores que dão frutos, que precisam ser cuidados... O Pé do Dente de Marcelo cresce. Ele já imaginou uma árvore tão grande saindo de sua boca que ficou imóvel de tão pesada que era a árvore. Daí ele se questionar por que os dentes não são árvores de verdade, por que só no mundo dele os dentes se parecem com árvores. Muitas dessas árvores são destruídas diariamente, seus frutos são dizimados, exalam odores fétidos.
Certa noite Marcelo acordou assustado, nunca tinha sonhado com uma árvore tão grande saindo de sua boca. Essa era a maior de todas que ele já imaginara acordado, e ela era tão grande,mas tão grande que sua boca parecia um pequeno botão. Ele acordou e correu pra frente do espelho, queria ver,queria sentir seus dentes, sua língua, suas bochechas.
Marcelo já plantou várias árvores na rua onde mora, ele acredita que o mundo precisa realmente de árvores, que estão destruindo muitas por aí... Mas poucas pessoas são como Marcelo, nenhum de seus amigos da escola acreditariam nele, e por medo de ser tachado de louco,Marcelo se cala, se tranca num mundo imaginário. E seus melhores momentos são com ele mesmo, no silêncio da noite trancado no seu quarto.
Desde o dia que ouviu a expressão "o pé do meu dente",pois sua avó materna sempre usava essas palavras ao se referir às dores que seus dentes causavam, Marcelo passou a imaginar que da boca sairiam árvores,galhos, frutos... e a realidade misturou-se com a fantasia à partir do momento que ele se interessou por árvores e em plantá-las. O mundo verde de Marcelo é bem melhor do que o mundo cinza de muitos garotos de oito anos de idade que vagam por ai, sem lar, sem escola,sem família... Mesmo com seus dilemas, Marcelo é feliz dentro de seu mundo de fantasias e sonhos.
E os sonhos de Marcelo continuam....


amilton

Prefiro ser eu mesmo...


Fora do consultório ,longe dos problemas diários de cada paciente, da rotina de atendimento, é sempre bom e saudável esquecer um pouco a realidade,mas sempre que descobrem que estão falando com um dentista,algumas pessoas acabam aproveitando a oportunidade e fazendo,literalmente,uma consulta na rua mesmo,no shopping,ou até mesmo em bares,restaurantes e shows. Já fui vítima de inúmeras situações... e agora,lembro-me, de uma senhora que no meio de um show descobriu que eu era dentista e passou a me perseguir,aonde eu ia lá estava ela abrindo a boca e mostrando o canino dela que "ela achava que era maior que o outro do outro lado". Bem, foi um teste de paciência, ela queria porque queria que eu cerrasse o dente dela no outro dia. Fui muito,mas muito paciente mesmo tentando explicar que não poderia cerrar o dente dela,mas que ela me procurasse no consultório.... depois de umas 3 doses de vodka falei-"Por favor,não se preocupe,amnhã eu cerrarei seu dente, e todos os outros que a senhora desejar...", e ela saiu feliz. Ela nunca apreceu no consultório,e olha que ela nem estava muito embriagada.
Outra vez foi um policial que de tanto me perturbar que precisava restaurar um dente, acabei falando que ele poderia ir ao consultório outro dia. Dia seguinte ele estava lá,com viatura e tudo,caso que já relatei no post anterior"Doutor,você está preso". Ele se consultou no meio da festa, e depois ainda foi ao consultóiiro odontológico e pregou uma tremenda pegadinha.
Prefiro ser eu mesmo... fora do consultório.



amilton

Cadê o meu dinheiro?!?


Ontem, logo de manhã, esperando na porta do consultório odontológico estava um senhor que demonstrando ansiedade foi logo falando ao me ver-"Com licença doutor, acho que deixei cair do meu bolso o dinheiro que ia usar para pagar a prestação da minha geladeira...", então perguntei-"Cem reais?", e prontamente ele respondeu que sim. "Mas como o senhor deixou cair uma nota dessas?", perguntei;"Ora,eu dobrei ela toda e coloquei no bolso de trás da minha calça,quando cheguei na loja e procurei,nada. Cadê o dinheiro?! Fiquei apavorado, procurei por tudo que é canto, e o último lugar que me resta é aqui... o senhor nem imagina o quanto esse dinheiro é importante...". Humildemente ele assumiu a importãncia que o dinheiro tinha naquele momento,do trabalho que teve para conseguí-lo,e da preocupação de tê-lo perdido tão rapidamente. Falei que havia encontrado uma cédula de cem reais embaixo da cadeira odontológica,uma cédula dobrada,amassada,e que estava guardada e seria entregue. O rosto dele foi uma alegria só, abriu um sorriso e agradeceu muito.
A nota de cem reais foi para o seu devido lugar, e dessa vez ele não mais dobrou a nota,ficou segurando ela com tanta força que achei que iria rasgá-la. E saiu apressado para fazer o pagamento na loja... O dia dele estava salvo,e o mistério da nota resolvido. Aquela nota de cem reais,nos meus pés,toda dobrada, agora voltou para o verdadeiro dono. E quão útil ela será...
Fico agora lembrando da Faca... e do dono (a) que nunca apareceu. Um mistério que não foi solucionado...

amilton

Esteretizar


A curiosidade que nos acompanha, que nos leva a descobrir coisas novas a cada momento pode ser encarada como um processo normal de esclareciemnto de dúvidas geradas diariamente,só não podemos nos tornar "chatos" que duvidam e questionam sempre tudo,tudo... Muitos pacientes às vezes nos bombardeiam com uma infinidades de perguntas, sobre o procedimento a ser realizado, o que é deveras importante o feedback, perguntas sobre aspectos pessoais de nossas vidas às vezes também surgem. Antes do carnaval, uma paciente começou uma série de perguntas antes do atendimento, já sentada na cadeira odontológica me bombardeou com muitas perguntas, e a última delas era "aonde eu iria passar o carnaval e se eu poderia levá-la junto...". Pois é,na maior tranquilidade ela falou que queria passar o carnaval comigo, e eu fiquei alguns segundos sem saber o que responder,mas logo falei que não tinha possibilidade,mudei de assunto completamente e comecei o procedimento. Depois desse dia, ela não retornou mais ao consultório... Casos assim são complicados, temos que ter muita cautela mesmo, e agir dentro dos preceitos éticos ,e sempre respeitando o paciente,e que ele nos respeite também.
Mas a curiosidade de uma paciente hoje, que foi logo falando-"Doutor, quanto tempo demora para esteretizar tudo?". Bem,esterilizar demorar alguns minutos,expliquei... E ela tornou a repetir-"Esteretiza em minutos ,é?!",e eu respondi-"Sim, esteriliza em minutos...". Mas não "caiu a ficha" nela-"Sério doutor, esteretiza tudo em pouco tempo?", e eu-"Sim senhora, esteriliza tudo em minutos". Resolvi começar logo o procedimento e não prolongar o processo...

amilton

Cem Reais


Muitas surpresas acontecem diariamente no consultório odontológico, muitas "coisas" são deixadas para trás, algumas materiais outras não. Já esqueceram de tudo mesmo, da impressionante Faca, que até hoje não apareceu o dono ou dona, celulares,jóias, relógios etc. Mas nunca tinham esquecido uma nota de cem reais...
A cédula está guardada esperando ser reclamada. A auxiliar foi a primeira a perceber, e acreditava que fosse minha,mas não, infelizmente não era. E o último paciente que sentou na cadeira odontológica foi contactado e não é dele também. Incrível,mas até agora ninguém sentiu falta dela... Vamos pacientemente esperar... Também não temos pressa.



amilton

Perdendo Dentes






Gosto muito de Pato Fú, das brincadeiras sonoras e palavras soltas.
Da analogia de se "perder dentes" com o tempo, com a vida, com os problemas, daí os dentes passam a simbolizar tudo que se perdeu ao longo da vida, ao longo dos problemas, das soluções... e vai-se perdendo dentes e passando o tempo,envelhecendo,amadurecendo...
Bom fim de semana!


amilton

A Grande Família


Para finalizar a semana de atendimentos, última paciente do dia, é sexta-feira e uma senhora de 52 anos acabou de deixar o consultório odontológico. Fiquei pensando sobre o pouco que conversamos, mas suficiente para eu saber alguns detalhes da trajetória da família dela. Casada, dona de casa, e mãe de 23 filhos,isso mesmo,23 filhos!!! Não demonstrou em nenhum momento tristeza, angústia,arrependimento ao falar de seus 23 filhos,mas transpareceu ,sim, esperanças de que todos eles sejam alguém na vida,de acordo com suas próprias palavras:" Sabe, quero que eles vivam bem,que não passem nunca fome, que estudem,que trabalhem...". Sete dias depois que o 22o filho nasceu, simplesmente deixaram um presente na porta da casa dela,uma caixa e dentro da caixa uma criança, que passou a ser o 23o filho,e que foi acolhido com amor e a ser tratado como filho também. Acredito muito na missão de cada um, nos laços que nos unem, nos caminhos cármicos que nos ligam. Nada,simplesmente nada, acontece por acaso...
Fica aí a lição, de que mesmo tendo tudo para se lamentar, para desistir, essa família permaneceu unida,e continuam com sonhos de serem cada vez mais felizes,mesmo diante das adversidades. Resignação,paciência e amor!

amilton

"Pode me chamar de Paloma"



Lendo o blog Te Vejo Por Dentro da Kellen, lembrei-me deste caso que aconteceu comigo a alguns anos atrás. Eu começava a trabalhar em Jericoacoara numa Ong, conforme relatei no post intitulado Paraíso,e logo no primeiro dia de atendimento no consultório odontológico ao chamar um paciente, lembro-me muito bem que o nome dele era de homem,mas logo de cara vi que somente o nome era de homem. Ele usava saia,sandália de salto,batom,ou seja,vestia-se como uma mulher,e era completamente uma mulher. Levei um susto,no começo ele percebeu minha cara de assustado, e foi logo falando-"Pode me chamar de Paloma doutor, só o meu nome é de homem viu, e um outro pequeno detalhe que carrego pendurado no meu corpo,mas o resto,é tudo mulher viu...". Fiz afirmativo com a cabeça, passei a chamá-lo,ops, chamá-la de Paloma sempre que retornava para atendimento.
Aceitar e respeitar as diferenças,sejam elas de orientação sexual,raça,culturais,sociais, torna-nos cada vez mais humanos dentro de um mundo tão cheio de preconceitos,tão separado por muros de hipocrisia,de ilusões passageiras. Aliás,somos todos passageiros desse mundo, e quem nos dirá qual será nossa posição num futuro bem próximo? Num post intulado Preconceitos relatei o caso de um colega médico que ao atender um travesti numa emergência de um hospital praticamente expulsou-o fazendo ir vestir "uma roupa de homem", conforme ele mesmo me descreveu. Preconceito ao extremo porque antes de ser um travesti aquele cara é um ser humano, tem uma vida,tem anseios,tem probelmas,tem sonhos como qualquer um de nós.
Vamos aceitar as diferenças...

amilton

Sim,é possível...




Vivemos tempos de mudanças, sejam sociais ou econômicas. Somos um país de dimensões geográficas tão grandes quanto díspares entre si. Quando a Odontologia ultrapassa barreiras geográficas, sociais, culturais e econômicas e chega até os mais longínquos recantos do Brasil nos deparamos com necessidades a serem transformadas,e os resultados serão obtidos a longo prazo,e através de programas pontuados na frequência de suas ações e de acesso da população à serviços odontológicos clínicos individuais e coletivos.
Muitas crianças desses distantes recantos nunca possuíram uma escova de dente, e a possibilidade de recebê-la na escola torna-se um momento único e primordial. Os problemas existem,mas comecemos a fazer a nossa parte, e quem sabe num futuro bem próximo não estaremos mais alimentado as estatísticas mundiais de "país dos desdentados", mesmo possuindo o maior número de faculdades de Odontologia.
Toda vez que vejo um rostinho desses que aí está estampado nessas fotos, acredito que tudo,sim,é possível...

amilton

"Tenho vergonha do meu nome"


Muitos pacientes chegam ao consultório odontológico e logo me chamam atenção pela particularidade de seus nomes. Alguns bem originais, outros nem tanto, mas sempre aparece uma infinidade de nomes copiados de artistas de Hollywood, astros de rock, bulas de remédio,etc etc.
A alguns anos atrás uma senhora marcou-me por simplesmente se chamar "Fluorosa", sim Dona Fluorosa tinha por volta de cinquenta anos de idade, e sinceramente, ela não sabia o significado de seu nome, simplesmente seus pais gostaram muito e colocaram. E ela convive muito bem com o nome. O que não é o caso do adolescente Keflex que foi logo falando -"Ah doutor, esse nome é feio demais, tenho é vergonha do meu nome mesmo...". Já vi algumas Remédias, Meracilinas e tantos outros passarem. Alguns dias atrás ouvi uma colega falar que o esposo dela queria colocar o nome do filho que vai nascer de Dalai, sim, Dalai Lama... Fiquei sem comentários e só imaginando a criança na escola sendo motivos de brincadeiras -Dalai pra cá, Dalai pra lá...-muitos sofrimentos evitáveis.
Agora ,Dona Fluorosa era extremamente feliz com o seu nome, nem cogitou,nunca, a possibilidade de um apelido para substituí-lo. Parabéns Dona Fluorosa!


amilton