ilusões


Dores sem crédito
Dores sem nexo
Percursos traçados, caminhos perdidos
Ilusões desfeitas
Desfechos inevitáveis
Defeitos concretos
Concretos desejos

Dores incertas
Dores sem mundo
Vazios desejos
Infinitos desfeitos
Finitos defeitos

tudo desfeito...

O Leão


Sair do consultório e visitar os espaços sociais, conhecer de perto a realidade daqueles que frequentam a cadeira odontológica, talvez essa seja a forma mais adequada de inserir uma profissão tão individualista e tão clínica num lado mais humano, mais perceptível.Os programas sociais do governo comprovam que estratégias como essa funcionam, organizações não governamentais também mostram através de programas sociais que incluem a Odontologia um novo caminho de ver a Saúde Bucal.
Numa escola tão humilde e carente, localizada nas proximidades de uma comunidade que necessita de quase tudo, incluindo água tratada e saneamento básico. Na simplicidade da escola, no olhar observador e carente de seus 112 alunos, todos comportados,atentos a toda informação que lhes era compartilhada, chamou-me a atenção a presença constante de um cachorro, um vira-lata, isso mesmo, um cão que estava sempre ao lado dos alunos, tão carente e necessitado quanto eles. Conversando com os alunos, descobri que o amigo cão se chama Leão...
Leão já não é mais tão jovem, e abandonado foi adotado pelos alunos da escola. Ele mora lá, passa o dia com os alunos, e dorme na escola. Os alunos cuidam dele, e dessa forma desenvolvem a paciência, o carinho, o afeto, a humildade, e a caridade de que tanto necessitam e que talvez não encontrem dentro do lar.
Ao ouvir a história de Leão, lembrei de Marley, o cão Marley consagrado num dos livros mais belos e encantodores, "Marley e Eu" de John Grogan que narra a história de sua família através da trajetória de seu cão. Uma hitória real e comovente. Vale a pena conferir.
E toda a história de Leão nos alimenta a esperança de que somos capazes de amar, de cuidar, de dar carinho,e que tem sempre ao nosso lado alguém precisando de um sorriso,de um abraço. Aquelas crianças poderiam ter expulsado o cachorro da escola, e pensado que os problemas que elas carregam já são suficientemente grandes,mas não, o coração,esse sim, é suficientemente grande para amar.

Abraços

Na Biblioteca


Muito se pode fazer com tão pouco. São nos pequenos esforços diários para nos tornarmos seres melhores, nas nossas pequenas escolhas que nos diferenciamos, que nos moldamos. As atitudes podem ser boas ou más, o que fará indiscutível diferença nos resultados.
Numa escola que ainda falta muito, o ambiente talvez mais importante seja o menos valorizado. Falo de uma escola que visitei recentemente, e como ela existem inúmeras espalhadas pelo Brasil, pelo mundo... Falta quase tudo. E no meio de tanta ausência um pequeno espaço passou a ser utilizado como biblioteca, e uma dedicada professora não se cansa de diariamente estimular os alunos a lerem, a produzirem textos, a frequentarem aquele pequeno espaço. Infelizmente o devido valor ainda não foi dado, e a biblioteca ainda não é o ambiente mais importante da escola. Os alunos ainda visitam timidamente, e a carência de livros também se torna um obstáculo.Poucos livros espalhados numa mesa, e numa pequena estante. A maioria arrecadados pela própria professora através de doações.
Estimular a leitura, criar ambientes saudáveis que propiciem a criatividade, que incentivem o lúdico, são medidas viáveis que ajudam crianças e jovens a se desligarem de comportamentos viciosos,e venham a se tornar adultos mais conscientes,mais felizes.
Abraços

Transplantes,Placenta e Dentes Sufocados


Rir sempre será uma alternativa viável diante das tortuosas possibilidades diárias de sofrimentos.
Rir de você mesmo...
Rir dos erros, das perdas...
Rir do passado...
Rir pro futuro...
Muitas situações acontecem rotineiramente no consultório odontológico que nos levam a dar boas gargalhadas,sozinhos, na intimidade de nosso eu,ou em conjunto com os pacientes que nos trazem tantas histórias,tantos aprendizados.
Uma senhora chegou ao consultório trazendo a filha de nove anos. Assustada, foi logo falando que o caso de sua filha era urgente, pois o dente da filha estava sufocado, não respirava... Desde quando dente respira? desde quando dente morre sufocado? Assim pensei...
Depois do exame clínico entendi que o "sufoco" pelo qual o dente supostamente passava era justamente por causa do dente decíduo,o popular dente de leite que ainda estava sobre o dente permanente, daí a mãe concluir que o dente sufocava o outro... Nada que ocasionasse a morte do dente permanente.
Uma outra jovem alegou que gostaria que fossem feitos transplantes de placenta de dentes no consultório!!!! Impossível!!! Fora de cogitação... Sem comentários!!!
E vamos rir mais!!!

Abraçosss

Sonhos e Realidades


Liberar o que sentimos através das palavras, através da música, do teatro, do esporte, nos faz seres humanos mais completos, nos situa dentro de uma atmosfera permeada de sonhos e realidades, possíveis e inexoráveis muitas vezes.
Crescer acreditando que podemos ser tudo aquilo que sonhamos, tudo aquilo que desejamos quando criança, e que na adolescência e já na vida adulta mesmo diante de uma vida real, concreta ainda somos feitos de sonhos, e que sempre poderemos nos transformar naquilo que desejarmos.
A sociedade, a cultura e a família desenvolvem um papel importante contribuindo com suas parcelas no crescimento dos sonhos de cada um... Destroem-se, aniquilam-se ou inundam-se de esperanças.
Quando há espaço todos são capazes de brilhar, de se transformar, de melhorar, seja habitante de uma grande metrópole ou sobrevivente de uma grande favela.
Convidado a participar da Semana Comunitára da comunidade à qual trabalho, fiquei emocionado ao ver tantos talentos, tantas crianças, jovens,adultos e idosos reunidos num espaço vivenciando o bem através da música, do teatro, do esporte. Uma aula de cultura e cidadania...
Tudo só comprovando que o tempo de cada um pode ser voltado para a realização de sonhos que podem se tornar realidade, e que o teatro, o esporte e a música podem envolver tantos jovens e adultos que cada vez mais se afastarão das drogas e do crime.
Toda a comunidade se movimenta numa semana voltada para a cultura expressada através da arte de cada um, seja aluno, professor, trabalhador etc. E tudo isso, organizado por eles mesmos, cujo mérito cabe somente à eles, sem assistenciliasmo,sem interferência do poder público.
Uma verdadeira demonstração de que mesmo com tão pouco se pode chegar tão longe.

Abraços a todos!

Pecados....


Muitas situações ainda me surpreendem, muitas histórias ainda me fazem pensar o quanto díspares nós somos, quantas angústias carregamos no silêncio diário de nossas vidas, quantos medos abafamos, e quantos sofrimentos desnecessários criamos diariamente.
Duas vidas, duas crianças, dois futuros tão diferentes... São essas as imagens que guardo de duas pacientes que chegaram ao consultório trazendo além do medo e ansiedade, algumas lições. A primeira grávida aos 16 anos de idade, relatou que não esperava ter a criança, que não estava nos seus planos tê-la, confessou-me até que no início fez planos para cometer um aborto, felizmente não o concretizou. Aos sete meses de gestação, carrega no seu âmago a dúvida, a incerteza quanto ao futuro dela e da criança... Uma criança despreparada pela família, pela sociedade, enfim,marginalizada, à procura de apoio, de carinho, de informação para continuar seguindo sua vida sem erros, sem medos... Neste exato momento, de acordo com o que ela me relatou, a sua grande insatisfação relaciona-se, não mais com o fato de estar grávida, mas por não ser batizada, isso mesmo, ela é católica,frequenta a igreja,mas nunca foi batizada, e colocaram na cabeça dela que ela não é "gente", que o filho dela pode nem nascer por causa disso, e que ela está no "inferno" por não ser batizada... Depois que ela desabafou esses medos, parei e pensei no quanto a religião, a família, a escola são importantes para moldar a personalidade ,e que educação é tão importante,e não falo somente de aprender a escrever o nome para passar de ano, mas saber distinguir o certo do errado e não ser manipulado, não se sentir um fantoche nas mãos dos outros... Tentei mostrar para ela que Deus não a punirá por ela não ser batizada, que o filho dela não morrerá por causa disso, que ela fique tranquila e espere a hora do parto, e mais, que o inferno somos nós que criamos em nossas consciências, e que ela tenha paz de espírito, cuide da sua sáude e faça de tudo para ter um filho saudável,mesmo que em condições adversas.
A segunda paciente, uma criança de apenas nove anos sentou na cadeira odontológica e não parou mais de falar... Incrível a capacidade dela de articular histórias, de contar seus medos, suas necessidades, talvez a ansiedade, o medo da situação tenha colocado-a diante de um impasse, falar para esquecer , para criar subterfúgios que fujam à dor. Adorei ouvir suas histórias, o dia do nascimento, com data,hora,minutos e segundos... Nove anos e muitas histórias,e sonhos para um futuro promissor relatado pelo gosto da leitura, felicidade estampada no rosto,mesmo faltando muito.
As duas são socialmente inseridas na mesma comunidade, frequentam a mesma escola,mas são tão diferentes que parecem ser de dois mundos tão dístintos quanto longínquos. As características inatas de cada uma, a história delas segue trilhas diferentes, e os finais poderiam ser o mesmo se tivéssemos mais educação, esporte, lazer de qualidade, famílias equilibradas, professores adequados,enfim,uma sociedade onde não houvesse ninguém à margem, à mercê de conhecimento, de carinho, de afeto.


Abraço a todos.

A Faca


A diversidade de pacientes muitas vezes ainda me faz parar e pensar, no quanto somos iguais e ao mesmo tempo tão diferentes. Nossos medos, nossas dúvidas, nossas tristezas, nossas alegrias são tão parecidos que o nosso egoismo às vezes nos faz pensar que somos únicos, que somos os únicos a sofrer,ou os únicos a sorrir... Não somos, nem nunca seremos nós mesmos sem estarmos preparados a aceitar o outro,mas antes temos que nos aceitar, nos amar, nos respeitar,e tudo mais vem de volta, é a lei de causa e efeito,se dou amor,receberei amor...
Depois de alguns pacientes atendidos encontra-se uma faca debaixo da cadeira odontológica. Não era minha, muito menos da auxiliar que foi logo assustada se justificando,pois então, de quem era a faca?!? Passamos alguns minutos discutindo, criando e "viajando" em idéias absurdas para a origem da faca,mas nada de concreto,nenhuma solução viável. Depois de abordados todos os funcionários da unidade, e de sabermos que nenhum deles era o dono da faca, é claro que só poderia ser de algum paciente que a deixou cair logo após o atendimento. Mas qual paciente? Quem levaria uma faca para um consultório odontológico? Quais os motivos? E como a deixou cair sem vestígios, sem barulho? Dúvidas e mais dúvidas...
A faca, de uns 15cm,devidamente protegida por uma bainha verde foi guardada à espera de seu dono. Será que ele(a) aparecerá ? Estamos aguardando ansiosos...

amilton

Voltar e Recomeçar....


Depois de muitos planos traçados,seguidos ou não, sempre estaremos voltando,prontos ou não. Muitos são os caminhos, muitas são as escolhas, às vezes seguimos trilhas nunca antes planejadas, nunca antes imaginadas.
A volta sempre será marcada por alguns traços, sejam eles bons ou ruins, brancos ou pretos, doces ou amargos. Alguns ficam, outros vão e muitos passam incólumes, muitos deixam marcas, boas ou más...
Com o tempo descobrimos que muitas trilhas nunca imaginadas se tornaram caminhos seguros e amenos.
Com o tempo descobrimos que muitos abrigos sempre seguros se tornaram perigosos labirintos.
E estaremos sempre expostos a perigos...
E seremos sempre moldados pelas nossas escolhas...
E terminaremos sempre começando...
E voltaremos sempre a recomeçar inúmeras vezes...
E descobriremos quantas dúvidas, quantos anseios, quantos caminhos, quantas trilhas ainda temos que percorrer...
E chegaremos ao final cansados, marcados pelo suor, mas estaremos sempre dispostos a recomeçar.

amilton

Amor e Ódio


Despertar sentimentos, conviver com a busca de ser amado, com o medo de ser odiado. Tudo parece ser planejado,e muitas vezes inesperado. Os desejos, a busca do novo, o amor fraterno, o amor involuntário, o amor universal,esses parecem ser caminhos menos tortuosos. Aí podemos falar do ódio involutário, do ódio que surge de situações banais,possivelmente evitáveis. Amor e ódio podem caminhar juntos,mas os caminhos que levam a tais sentimentos poderiam muito bem ser moldados de tal forma que não surgissem ambiguidades,desapontamentos,frivolidades,desencanto ,ressentimentos,tristeza exarcerbada....
Os caminhos são muitos, as escolhas são muitas vezes imperfeitas, assim como são imperfeitos os sentimentos que abrem os caminhos do amor e do ódio.
Uma certa noite, numa certa festa esbarrei numa desconhecida que começou a falar comigo sem parar,simplesmente ela não dava espaço para eu dizer "até logo,foi um prazer conhecê-la", não,nada disso,ela se tornou uma metralhadora falante que disparava tiros de segundo em segundo,e eu já estava assustado com aquilo,sinceramente queria me desvencilhar daquela situação. Foi aí que ela perguntou o que eu fazia da vida,e respondi que era dentista,neste momento ela mudou de fisionomia,disse em voz alta que me odiava,e fiquei assustado,tive medo e perguntei como você pode odiar uma pessoa que não conhece. Ela respondeu que me odiava sim,mas que também me amava, foi então que fiquei confuso,mais confuso ainda, e tive a certeza que a loucura pode estar bem próxima e você muitas vezes não quer enxergá-la,ou simplesmente deixa passá-la despercebida. Ela disse que odiava os dentistas,então me odiava também,mas ao mesmo tempo amava,uma confusão de sentimentos pautada em experiências anteriores que a jovem teve em consultórios dentários, foi assim que ela me revelou as dores que havia sentido,mas também várias dores que tinham sido aliviadas na cadeira odontológica. Meus amigos chegaram e não houve mais espaço para a jovem metralhar sentimentos. Nos despedimos,e ainda olhei se não estava sendo seguido,e para minha sorte ela desapareceu na multidão... Nunca mais a encontrei.
Deixá-la falar, permitir que sentimentos sejam ditos ,mesmo que para um estranho,pode significar muito para aliviar o amor e o ódio que muitas vezes fica escondido somente esperando uma válvula de escape. Talvez aquela jovem somente procurava ser amada ao ser ouvida,talvez odiasse a situação na qual a vida dela se encontrava, talvez ela amasse e não fosse correspondida, talvez ela odiasse não ser ouvida,e talvez precisasse encontrar alguém que tivesse a paciência de ouvir suas dores, seus amores,suas lamentações,e certamente,nada melhor que um desconhecido ,alguém que não precisou saber seu nome,seu endereço,e que não a tivesse como louca. Ela precisava simplesmente ser ouvida,nem que para isso ela tivesse que me odiar e me amar sem nunca ter me visto e,provavelmente, nunca mais voltará a ver.

Abraçossss

Tempos


Tempos contados


Tempos passados

Tempos esperados

Espera feliz

Tempo de ser

Tempo que foi

Tempo que virá


Espera feliz

Tempos e tempos

Horas

Minutos

Passado....
Presente....
Futuro...
amilton

Tava na moda...


Muitas vezes basta apenas um simples sorriso, e uma pequena história pode trazer grandes lições. Diariamente podemos nos deparar com o bem ou o mal, com o belo e o feio, com o amor e o ódio, com a humildade ou o orgulho, mas cabe a nós fazermos as escolhas e diante delas colher bons frutos ou não. Ser ouvido, quantas pessoas cruzam a nossa vida todos os dias demonstrando aflição diante da vida, sentimentos escondidos, problemas diversos, mas que realmente precisam ser ouvidas, nem que seja um simples "olá,como vai?", um simples aperto de mão, ou um abraço caloroso,e inúmeros problemas poderiam desaparecer, ou simplesmente descobrir que nunca existiram.
Ao atender uma criança, a mãe que a acompanhava foi muito mais além do "olá,como vai?", ela demonstrou uma necessidade enorme de extravasar algo que estava preso, que precisava ser dito. Ela simplesmente precisava ser ouvida... E foi falando... Falando que problemas ela tinha muitos,mas que não era a única a tê-los, faltava-lhe dinheiro,mas conseguia viver com o pouco que tinha, procurava ser honesta, frequentou pouco a escola, mas a maior escola mesmo tem sido a vida, os ensinamentos são diários e árduos... De toda a conversa algo inusitado me chamou a atenção, o fato de a senhora relatar propositalmente para que a filha a ouvisse contando que a 40 anos atrás ela havia extraído todos os dentes porque simplesmente estava "na moda". Pois é, como ela mesma disse "tava na moda". Uma moda que sobrevivia à base da falta de informação, da falta de acesso a um atendimento de qualidade, da exclusão de uma profissão que era puramente elitista, que colocava à margem do sistema quem não tinha dinheiro para frequentar um consultório odontológico. Muita coisa mudou , é certo que ainda existe exclusão, que ainda existem milhões de desdentados, pois sofremos de um paradoxo ao sermos um dos países com o maior número de faculdades de odontologia, ao mesmo tempo temos o maior número de desdentados do mundo, e um dos maiores índices de cárie do planeta. Que vida paradoxal! Que mundo contundente! Que caminhos ainda teremos de percorrer!
Avanços tecnológicos não significam necessariamente avanços sociais qualitativos. Somente com educação, com acesso à informação, com a estruturação de uma nova forma de pensar e fazer sáude conseguiremos colocar em prática a ideologia de um sistema não excludente.
Que daqui a 40 anos possamos olhar para trás e perceber o quanto melhoramos, o quanto evoluimos, quantas desigualdades foram derrubadas, quantos preconceitos foram deixados para o passado...

Abraçosss

Desculpas....


Pedir desculpas, perdoar sempre, incondicionalmente... Nossas atitudes muitas vezes nos levam a tomar decisões precipitadas, insensatas, rápidas,e sem volta. Mas parar e pensar antes de agir seria o primeiro passo rumo à uma vida mais equilibrada.E como agir diante da dor? Da dor física, da dor espritual? As respostas podem estar em vários manuais de auto-ajuda, mas nem sempre são tão fáceis assim...
Diante do medo, da dor, da incerteza, nos tornamos seres diferentes do real, assumimos o imaginário que talvez esteja dentro de nosso inconsciente. A dor muitas vezes nos redime, nos faz crescer...
Uma pequena paciente, uma criança de 9 anos entrou assustada no consultório, e a primeira atitude dela foi pedir desculpas, pelo medo, pelas lágrimas que escorriam de seu rosto assustado. Uma criança, algumas palavras, e o pedido de desculpas que tentava mascarar o medo incontido, revestido de traumas anteriores, de dores talvez diárias, recorrentes, absurdas, inúteis... A fome, o medo, a solidão, quem será responsabilizado? Muitas dores, poucos culpados, mas muitas vítimas...
Vamos sempre ter medos, mas nem sempre vamos ter coragem de demonstrá-los. Nossas máscaras nos impedem, nossos personagens nos imprimem falsas reações, nosso mundo imaginário assume cores e formas distintas, e assim vamos seguindo, vamos sufocando...
Que escorram lágrimas de perdão, de desculpas, de amor.
Que os demônios sejam exorcizados.
Que a paz e a harmonia nos imprimam na alma o sentido concreto do real viver!
Abraçosss

Aos 88...


Numa manhã chuvosa, pouco fora das atividades normais de um consultório público, um senhor de 88 anos chamou minha atenção. Aparentando cansaço e dor, ele chegou à procura de atendimento odontológico, a dor o incomodava a dias, até que decidiu, depois de 88 anos ir ao dentista. Para a citada ocasião, a melhor roupa, o melhor calçado, tudo muito bem ,se não fosse a dor que só crescia mais e mais. Questionado por nunca ter ido ao dentista, a resposta foi curta e rápida: "-Eu nunca tive a oportunidade..." Foi justamente aí que parei pra pensar quantos senhores e senhoras ainda existem em nosso país que são marginalizados, que mascaram suas dores e são excluídos pelo sistema. Somos os campeões mundiais em faculdades de odontologia, por outro lado temos os maiores índices de desdentados do mundo. Um antagonismo paradoxal.
Depois de anos com políticas meramente exclusivistas e excludentes, nosso país caminha para a tentativa de mudar um quadro epidemiológico traumático e desgastante socialmente,ou seja, trabalhar o lado social e humanizado da saúde, tentar evitar, prevenir, mas também dá assistência curativa a quem sente dor e tem inúmeros problemas. Um longo caminho a se percorrer, mas sou otimista. Se cada um fizer a sua parte chegaremos a obter bons resultados.
A primeira vez ao dentista aos 88 anos de vida pode parecer um absurdo, mas infelizmente situações como essa são comuns na vida diária do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), modelo de atenção primordial e exemplar, mas distorcido e muitas vezes não colocado em prática na sua real necessidade.
Que surjam cada vez mais políticas voltadas para o idoso, não somente medidas assistencialistas que se baseiam em programas que não mostram resultados eficazes,mas propostas verdadeiramente humanas de inclusão social, de valorização,e não de tratamento do idoso como um "retardado", mas como alguém que ainda tem muito a nos ensinar.
Que a primeira vez chegue mais cedo e que aos 88, aos 98, aos 108 anos possamos dar belos sorrisos.
Abraços

Plantando dentes...


Nascer, crescer, dar frutos. Tudo isso faz parte da vida, quer você seja uma planta, um animal, um ser humano. As etapas às quais somos submetidos são invariavelmente moldadas por nossas ações, seremos e colheremos aquilo que plantamos. Alguns estão maduros e suficientemente capazes de viver e tomar decisões acertadas, outros ainda estão verdes e são incapazes de gerir a própria vida. Só o tempo mostrará os resultados, e pelos caminhos trilhados todos, com certeza,serão alvo de evolução,e sempre para melhor,mesmo que haja algum e variado sofrimento pelo caminho traçado.
Marcelo acordou acreditando que o caminho que o levaria à escola poderia ser bem mais bonito,e como sempre diziam a ele que sorrir era bonito, ele imaginou que se plantasse dentes por todo o percurso tudo ficaria tao lindo quanto um sorriso. Mas como arranjaria tantos dentes?!? Como plantaria? Como convencer seus pais, seus amigos?! Todas essas dúvidas ele carregou durante dias, meses, e sonhava indo para a escola e vendo muitos,muitos dentes nascendo pelo caminho, e ao acordar ficava feliz,mas ao mesmo tempo insatisfeito por não poder realizar seu sonho.
Na primeira oportunidade de visita ao consultório dentário Marcelo perguntou ao dentista se ele poderia lhe dar alguns dentes, vários dentes, muitos inclusive se fosse preciso. O dentista assustado, perguntou o real motivo, e o garoto explicou que gostaria de plantá-los, não na boca,mas no caminho da escola para que se tornasse cada vez mais bonito,cada vez mais alegre. Assustado, o dentista tentou explicar que dentes nao nascem como árvores, e falou que seria impossível o garoto plantar dentes porque simplesmente isso não existe.
Triste, muito triste, Marcelo voltou para casa. Acreditou que certamente não poderia plantar dentes, que talvez fosse mesmo um absurdo de sua cabeça, de seus sonhos,mas que talvez existissem outras alternativas que pudessem tornar o caminho de ida até a escola mais bonito, mais alegre...
E decidiu dormir, para que sonhando encontrasse a solução...

INSÔNIA



Perdido em pensamentos
Labirintos que me levam a você
Trilhas do meu ser
Labirintos que me afastam de mim


Perdido em sonhos
Passos dados sem fim
Caminhos distantes
Caminhos de antes
Labirintos do meu mundo


Mundo insano
Mundo insone
Mundo vazio
Mundo meu


Procuro em sonhos
Você não responde
Sofro sozinho
Sozinho sou teu



amilton
Ps. Ouvindo "Frases mais azuis" Nando Reis

Ausência


CORPO AUSENTE

MENTE QUE SENTE

VAZIO PROFUNDO

NO FUNDO DO CORAÇÃO


ÂNSIA DE TER

ÂNSIA DE SER

SER COMPLETO

TER COMPLETO


CORPOS EM TRANSE

MENTES QUE CAPTAM

DESEJOS ARDENTES


ÂNSIA DE TER

ÂNSIA DE SER

DOIS CORPOS EM UM

Amilton

O Pé Do Meu Dente


Marcelo tinha somente 8 anos, e imaginava que da sua boca sairia uma árvore com galhos enormes toda vez que ele não escovasse os dentes. Ele chegava a fantasiar andando pelas ruas carregando na boca galhos verdes, noutras vezes amarelos, vermelhos. A criatividade de Marcelo fazia as horas passarem mais rápido, as férias não eram tão animadas como ele imaginava,e a volta às aulas era ansiosamente esperada...
Ele passou a ver sua boca cheia de galhos e não somente com folhas e mais folhas,agora tinham frutos,muitos frutos,e estes começaram a ficar podres,começaram a exalar um odor fétido. E o que era antes bonito, passou a representar uma angústia na vida dele. Os amigos passaram a deixá-lo de lado, o isolamento veio como num passe de mágica, e com ele todo o sofrimento da solidão de quem tem apenas 8 anos de idade... Com o tempo os frutos começaram a cair, a árvore precisou ser podada, regada, cuidada diariamente até voltar a dar frutos.
Marcelo não existe na realidade, essa estória muito menos ainda. Mas por que ela surgiu? Às vezes imagino coisas que simplesmente explodem na imaginação,e basta o estopim para dar início,e o que pode ser inusitado agora poderá ser real ao colocá-lo no papel. A estória de Marcelo começou a surgir a partir de uma paciente que chegou ao consultório pedindo que eu cuidasse do "pé do dente" dela,sinceramente eu nunca tinha me imaginado cuidando do"pé de um dente", certo que já usei várias vezes analogias de dentes em maquetes simbolizadas com braços e pernas, o que hoje descarto completamente,pois o dente não é um ser que anda,pensa,o dente está na boca de um ser humano que tem dores,sofre,ri... Imaginar um dente sozinho com braços e pernas andando na rua parece deslocar o lado humano em segundo plano,e criar um esteriótipo deturpado na imagem de muitos que passam a receber a informação,na grande maioria crianças.
Na verdade, a jovem paciente ao usar o termo "pé do dente" referia-se ao colo do dente,região situada entre gengiva e coroa.
E a estória de Marcelo continua....
Abraços a todos!

Pura Ilusão...


Palavras não dizem nada
Nada parece existir
Saio e não encontro
Fujo, corro, morro


Chego cansado ao fim
Fim tórrido, sórdido
Enquanto durar o desejo,
Desejo viver esse amor

Oxigênio, Hidrogênio, Hélio
Amor que explode no peito
Queima, sufoca, fere
São marcas deixadas para sempre
Cicatrizes da imaginação
Pura ilusão...

amilton

Formatura


A capacidade de crescermos como seres humanos capazes de compartilhar sentimentos, valores, e uma vida inteira nos coloca num mundo que gira muitas vezes contra o que realmente almejamos. Muitas vezes queremos algo, esse algo se torna tão real quanto nossos sonhos... E em outras tantas vezes o inesperado teima em acontecer, e por algumas vezes os sonhos se perdem num amontoado de problemas,de inesperados problemas. Mas a fé que nos move, que nos guia detntro de nossas possibilidades nos redireciona em novas trilhas, em novas aventuras em busca de inúmeras outras vitórias, porque o mais real e incrível é que somos seres capazes de mudar nossa história,e dessa forma nos adaptamos às adversidades,mesmo quando o inesperado acontece podemos ressurgir das cinzas, podemos renascer mais fortes, mais lúdicos, mais sonhadores...
Diante da dor nossos sentimentos, nossos sonhos muitas vezes tomam caminhos diferentes dos quais traçamos, na grande maioria é sempre assim.
Um jovem adolescente estava eufórico com toda a preparação de sua festa de formatura, passou anos esperando por aquele dia, era a concretização de um sonho. Ele relatou-me que acordava sempre e visualizava sua festa,seus amigos, sua mãe,seus irmãos, todos reunidos para clebrarem aquele dia tão esperado. Ele contava as horas para que tudo chegasse. Na manhã do dia da festa, no meio de tantos sonhos, de tanta euforia, de tanta alegria compartilhada veio o inesperado. Uma dor intensa, aguda invadiu seu rosto... E tudo justo naquela manhã... Por que tinha de acontecer com ele? Por que exatamente naquela manhã? Seus dentes eram perfeitos, por que com ele? Chegou ao consultório eufórico, triste,lágrimas escorriam de seu rosto, era uma tristeza que invadia nosos corações...
Depois de acalmá-lo, após uma descontraída conversa,após os relatos anteriores e muitos outros,ele deixou que eu examinasse sua boca. Depois de feito o exame e encontrada a causa da dor,e retirada toda a dor que se localizava em um único dente que necessitaria de tratamento endodôntico, foram feitos os procedimentos para que ele tivesse um dia feliz,um dia sem dor. Afirmei que ele podia confiar,após a anestesia aquela dor descomunal não o incomodaria mais, pelo menos por hoje não...
Ele saiu do consultório confiante, feliz. Não o vi depois de tudo que aconteceu, mas com certeza a dor não voltou a incomodá-lo...
Mesmo sabendo que podemos acordar amanhã de um jeito completamente diferente daqule que sonhamos hoje, não devemos mudar nossa rota, não devemos desistir de nossos sonhos. E devemos ter fé sempre....
Abraços a todos!