Feliz dente novo!!


        Quando aquela senhora de 70 anos chegou ao consultório odontológico, era uma manhã chuvosa,fria e tranquila. Calma e serena, ela foi logo relatando que não era ela a paciente,e sim seu filho,o 'nenem',que precisava de orientações.
    Bem, pensei que ''nenem'' se tratasse do neto ou bisneto dela. Mas não, quando abriu-se a porta do consultório e entrou aquele senhor de mais ou menos 40 anos de idade, não tive dúvidas, o ''nenem'' era mesmo o filho mais novo dela,ou seja,o senhor de 40 anos.
     E ela não dava espaço para ''nenem'' falar. E disse que eu desse uma olhadinha na boca dele,pois ao tomar banho no rio,a dentadura caiu na água e perdeu-se,sumiu na correnteza.E agora ''nenem'' tinha somente cinco dentes inferiores cariados.E ela queria que imediatamente eu distraísse os 5 dentes restantes, coitados, culpados,vilões da história.
     Daí em diante foi uma epopéia tentar mostrar para a senhora e para o ''nenem'' que os 5 dentes cariados poderiam ser tratados e ficarem na boca dele.Muita saliva gasta,e alguns minutos depois ela olha pra mim e diz: ''Tudo bem doutorzinho,pois arremedie esse danado desse dente''.
     Depois de restaurado um dos dentes,ela sentiu-se feliz,e ''nenem'' idem.E prometeu retornar para tratar os 4 restantes,e claro,confeccionar uma prótese total para ''nenem''.
         Ela sorriu,olhou para o filho e disse: "Ficou bom mesmo...''.
   Gostaria de desejar um 2010 repleto de muita paz e realizações para todos que frequentam meu blog e curtem ler meus casos.

      Que muitos outros casos,causas e histórias ainda permeiem por mais 365 dias vindouros.
       Que muitos pacientes, com seus dramas,alegrias e   anseios possam povoar meu imaginário.Sem eles isso não seria possível...


                      abraços

                


                 





             

      

Férias,Jeri, Transplantes de gengivas e garçonetes


     Muitas histórias ainda podem surgir mesmo quando você,dentista,está longe do consultório odontológico. As cruciais consultas em bares e restaurantes,lojas etc. Nunca consegui escapar de tais fatos,acho até que como ímã sofro de pressão por atração a tais fatos,ous simplesmente somos predestinados mesmo,e ponto final.
     Dias de folga e resolvi voltar aonde tudo começou... O Paraíso,conforme relatei no post de mesmo nome. E o paraíso para mim,por esses dias,e por muitos em alguns anos atrás ousou atender pelo nome de Jericoacoara. Foi quando larguei a vida urbana e fui trabalhar numa Ong que atendia aos nativos da vila e paradisíaca praia. Mas essa é outra história,e se você ficou interessado clique no link anterior.
     Pelas areias de Jeri,como carinhosamente ela é chamada,muitos ainda me reconheceram como dentista,e isso ressoou como uma batida no meu peito assinalando que algo poderia surgir dali. E surgiram: reencontros com velhos pacientes,velhos lugares, grandes amigos,e claro, umas olhadinhas básicas nesse ou naquele dente que incomodava. Mas nada que me roube a paciência diante de tão bela natureza... Até cair a noite,e na mesa de um bar com ares africanos uma garçonete resolveu me levar a questionar se seria melhor ela colocar uma ponte ou um 'transplante de gengiva',e confesso que a resposta nem saiu e somente a dúvida do por quê as garçonetes me perseguem(não sou alcólatra,juro!).E depois de várias idas e vindas ela riu porque não sabia como seria feito o 'transplante da gengiva dela',se poderia colar a gengiva do namorado dela na boca dela...
   Tive que,mais uma vez,como a alguns anos atrás,deixar Jeri...
   Por esses dias irá acontecer na capital cearense o ECATESPO(Encontro Cearense de Administradores e Técnicos do Serviço Público Odontológico), e dois projetos de minha autoria foram escolhidos para serem apresentados,um  sobre Tratamento Restaurador Atraumático e outro sobre Multiplicadores em Saúde Bucal.Se você estiver em Fortaleza e quiser assitir as apresentações,clique no link anterior com o site do evento.
   Abraços

   



    

A Xerox do Dente



      Meses já se passaram depois que um jovem chegou ao           consultório odontológico querendo tirar ,literalmente,uma “xerox da cara dele”,como ele próprio me relatou no post intitulado A XEROX. 
Então, hoje, pela segunda vez, um outro paciente de 26 anos também usou xerox para se referir à radiografia. Diferente do primeiro, este já trazia a xerox que foi “batida”, segundo ele, por outro dentista.
       “Olha só doutor, o senhor tem que dá uma olhadinha na xerox que trouxe, que foi batida por outro doutor,antes de mexer no meu dente...”. “Olhar a xerox amigo?!? Que xerox?”. Foi aí que o outro paciente caiu na minha lembrança, e logo falei: “Radiografia, você quer dizer ?”, e ele respondeu: “Isso mesmo doutor!!! Radiocafria!!!”.
       Ele retirou a radiocafria,ops,radiografia do bolso e me entregou. E começou a falar que não entendia porque dentista tirava tanta xerox de dente,pra que serviria tanto aquilo... E conversamos sobre coisas que não podem ser vistas a olho nú,e que se escondem e que precisam ser desvendadas.Lembrei do blog Te Vejo por Dentro da  Kellen,e da importância de tanta xerox de dente no mundo. Sem elas tudo ficaria  muito mais complicado.
       E o paciente esboçou um sorriso e soltou : “É bom bater essas radiocafrias porque não doeu nadinha... gostei muito,se precisar pode mandar eu ir lá de novo doutor!!!”.
       Bem,não foi necessário,mas ele até entendeu que por debaixo de tudo que pode ser visto ainda existe muito mais a ser desvendado...

Três Ganchos e Orações


      Dois pacientes me chamaram a atenção neste início de semana. De um lado um senhor de 53 anos e toda sua capacidade de demonstrar coragem e revolta contra a dor de dente que o atormentou durante dias. Do outro extremo uma senhora de 83 anos e toda uma vida devotada à arte de curar através da oração.
               Aquele senhor apareceu depois, segundo ele, de ter "arrancado" o dente com as unhas. Isso mesmo! No balbuciar de inúmeras palavras ele não dava espaço para mais nenhum  complemento. O dente era o troféu, e a morte do dente o fim da dor,segundo ele. E no final completou: "O danado saiu mesmo foi com minha unha, e ele tinha três ganchos doutor...", referindo-se ao primeiro molar superior que segundo ele teria sido extraído usando as própias unhas.E indagado sobre a dor e o sangue, ele desconversou... O herói jurou que tudo aconteceu mesmo.
     A senhora de 83 anos trás toda uma história de vida marcada pela simplicidade de quem exerce a função de rezadeira na comunidade. Todos a conhecem,e muitos já receberam suas orações. Calma, e com uma voz suave ele falou: "Já curei tudo,já rezei pra tudo,mas não conheço nenhuma reza que cure dor de dente... Queria ter na mente...".
            As rezadeiras ou benzedeiras como são conhecidas caracterizam um grupo típico do nordeste brasileiro,mais especificamente do sertão,e aonde durante séculos os avanços da medicina tardaram a chegar. E nas mãos dessas mulheres a cura é parcial ou totalmente encontrada através da fé. Folhas, ramos e galhos são os instrumentos que levam à cura pela natureza. Uma boa dica para quem ficou afim de saber mais sobre as rezadeiras é o texto Rezadeiras- a cura na natureza do blog Nosso Semiárido.
    De tantas histórias e vidas podemos tirar proveito, e do melhor a compartilhar através de quem tem tanto para ensinar na escola da vida.

    

    

Sem Noção


   Muitas situações inusitadas podem acontecer fora do consultório odontológico quando repentinamente um desconhecido qualquer descobre que você é dentista. Muitas histórias podem ser descritas, você possivelmente já deve ter protagonizado uma em algum momento.
     No meu caso, lembro sempre das mais marcantes, como o caso da garçonete que ao descobrir que eu era dentista me perseguiu durante horas querendo mostrar a "presa" dela em plena noite no meio de drinks e muita música. Assustado, impaciente e a ponto de explodir, tudo que eu queria era sair dali, voaria se me dessem asas...
    A jovem ouviu a conversa que eu levava com uma amiga, e ao saber que estava diante de um dentista nao titubeou,foi logo falando:"O doutor é dentista é?!", e recebeu um sim quase cochichado e saiu levando o pedido da mesa. Mas ela voltou várias vezes, e toda vez soltava uma pérola como essa: "Meu dente dói a dias... Aonde o doutor atende? Quanto custa uma 'bituração'?...". Tentei desconversar,pedir outra bebida,mas já cogitava sair dali urgentemente. Foi aí que ela sumiu por um bom tempo, e pasmem, quando a avistei, ela dirigia-se para minha mesa acompanhada de um adolescente. Fingi que não vi,mas nada adiantou, ela praticamente pulou em cima de mim,pegou o jovem,abriu a boca dele e gritou: "Olha, esse é o Carlinhos, ele precisa usar aparelho?".E não satisfeita, abriu a boca dela e colocou o dedo em cima do canino e falou: "E a minha presa, será que dá pra 'biturar'?!". Sem noção, completamente sem noção um ser humano desse. E saí de lá correndo, mas como já disse voaria se tivesse a oportunidade...
    E pra encerrar, esse último aconteceu no domingo durante um show. No meio do show um casal me chama e grita(tinha que gritar,eu não escutaria com tanto barulho): "VOCÊ É O DOUTOR AMILTON ?, e respondi gritando: "SIM, SOU O AMILTON?". Inesperadamente o rapaz grita: "O DOUTOR PODE CORTAR A ORELHA DO MEU CACHORRO?". Fiquei  sem saber o que falar, e pensava ou ele tava zoando da minha cara ou ele além de sem nocão era louco,completamente louco. E respondi:"BEM AMIGO, O SHOW COMEÇOU AGORINHA, SÓ BEBI UMA DOSE DE VODKA ATÉ AGORA,DEPOIS DA TERCEIRA DOSE QUEM SABE PODEREI ARRANCAR ORELHA DE CACHORRO,MAS ACHO QUE NÃO FAREI,ADORO ANIMAIS...". O casal ficou sem entender nada, e eu muito menos,mas saí deixando eles boquiabertos... Sem nocão esse povo!
   Mas só agora descobri que existe por essas bandas um veterinário chamado Amilton, daí o cara querer que durante o show que eu cortasse a orelha do cachorro dele. Inviável o processo...
   Também cheguei à conclusão que veterinários,psicológos,advogados,médicos,dentistas,somos todos alvo das possíveis "consultas" fora de lugar, de situação,e completamente sem noção mesmo...

Dia do Dentista



       Hoje, 25 de Outubro, comemora-se o dia do Dentista. Nos versos de Drummond minha homenagem:



“ DENTADURAS DUPLAS ”


“ Dentaduras duplas !
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída.
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica ?...)

Resovin ! Hecolite !
Nomes de países ?
Fantasmas femininos ?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.

Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.

Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar ?
de âmbar ! de âmbar !
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida ! ”

Carlos Drummond de Andrade 
          

De pernas pro ar


   Quando aquele senhor entrou no consultório odontológico já era final de mais um dia de atendimento, de mais uma semana. 
   Nos cumprimentamos, virei-me para calçar o par de luvas e voltei minha atenção para ele. E foi aí que deparei-me com uma cena inusitada. O paciente estava deitado na cadeira odontológica com os pés em cima do encosto que deveria estar colocada a cabeça dele,ou seja,literalmente de pernas pro ar.
   Falei: "Senhor, desculpa, mas não conseguirei alcançar sua boca dessa forma...". E examinar os dedões dos pés dele estava fora de cogitação. E todos aqueles dedões voltados para meu rosto...
   Ele atrapalhou-se mais ainda, e uma sucessão de palavras desconexas foram soltas. E muitas,muitas desculpas aceitas e entendidas devidamente...
   Ele tinha 65 anos, era sua primeira visita ao consultório odontológico, até aí tudo bem.Mas acreditar que naquela posição eu conseguiria alcançar a boca dele, daí é uma outra história. Nem com todo o alongamento possível eu conseguiria tanta elasticidade. E começamos a rir, eu, ele e a auxiliar...
   E como hoje é sexta, esse último paciente encerrou a semana com risos,muitos risos. E como é bom rir...

 

O caso da maconha


   A alguns anos atrás um paciente de aproximadamente 30 anos chegou para aquela que seria sua última sessão no consultório odontológico.
   Durante todas as outras consultas ele sempre demonstrou demasiada impaciência alavancada pelo temor de sentar na cadeira odontológica.Numa vez ele chegou completamente embriagado alegando ter tomado uma única dose para a coragem "crescer", como ele mesmo enfatizou.
   Mas naquele último dia, aonde tudo parecia passar tão rápido e tranquilamente, ele chegou portando uma pequena sacola numa mão e na outra um pacote branco,pequeno e que foi colocado sobre a mesa a pedido dele.
  Terminado o atendimento ele saiu apressado carregando a sacola,mas horas depois a auxiliar notou a presença do pequeno embrulho branco. Curiosa ao extremo e alegando não saber do que se tratava ela abriu o pacote mal embrulhado e gritou: "Vixi doutor, tem é mato aqui!!!". Realmente um odor bem diferente invadiu o consultório...
   Fechamos o pacote,colocamos dentro de uma pequena caixa e continuamos o dia. Mas uma dúvida nos perseguia: "O que vamos fazer com isso,hein?!?", repetia a auxiliar inúmeras vezes.

   Final do dia, o pacotinho quase indo para o lixo, e para alívio geral no consultório o paciente retorna. Preocupado,foi logo falando: "Doutor, acho que esqueci um pacote com os remédios da minha mãe aqui".
   O pacote retornou para o seu dono,mas mal sabia ele que a curiosidade da auxiliar nos fez realmente saber que remédio a mãe dele fazia uso naquele momento.
   E ele saiu para nunca mais voltar...

O Aniversário de Joice


    O que leva uma mãe a simplesmente ignorar a idade de um filho? E até que ponto a culpa recai sobre ela?
    Uma jovem senhora de 30 e poucos anos levou sua filha de ''supostamente'' oito anos para tratamento odontológico. Sem documentos, sem nada que comprovasse a existência oficial da garota, a mãe se perdeu em datas e não se preocupou em dizer que não sabia, não lembrava a data de nascimento. A criança nem se quer havia sido registrada. Joice não é uma cidadã de fato, não consta nos dados oficiais de registro.
    Indagada sobre o descaso, a mãe se justificou dizendo que a criança era batizada e pronto, isso bastava, mas que não sabia mesmo o dia e nem o ano que Joice tinha nascido, talvez 2000, 2001,2002...
    Orientada a procurar o cartório e registrar a garota, a mãe desconversou.
    Diante de tantos problemas, talvez, de tantas dúvidas diárias que, possivelmente, passam pela fome, isolamento social e desamparo...  Talvez diante disso e de outros tantos fatores, a data de nascimento pode ser representada por cada dia, pelo ontem, pelo hoje, pelo amanhã suportado tão fortemente diante das adversidades.
   Não podemos julgar, nem marginalizar. Inúmeros são os obstáculos que muitos ainda enfrentam para se manterem vivos, e sobreviverem, assim...
   Joice não comemora aniversários, não recebe presentes, não espera ansiosa pelo dia que irá apagar as velas de seu bolo. Existe uma lacuna, existe um vazio a ser preenchido...

A Criança em mim...


   Contaminado pela saudosismo do dia das crianças, fui levado à pensar quanto ainda podemos crescer e aprender, não só fisicamente mas também intelectual e moralmente.
   Durante todo esse tempo escrevendo por aqui, muitas crianças me fizeram parar e pensar o quanto ainda preciso evoluir, o quanto ainda preciso aprender, crescer...
   Histórias de Ricardos, Marianas, Carlos e muitos outros encheram o blog de alegrias, sonhos, e muitas, muitas percepções da vida sob vários aspectos,e sempre, sob o olhar atento deles, os pacientes...
   E quando criança também somos levados a questionar, a crer no inimaginável, a sonhar...         
   Muitos colegas 
dentistas,principalmente os de minhas relações pessoais ,ainda alegam falta de tempo quando o assunto é compartilhar e aprender sobre a profissão ou vivência através de um espaço como este. Aproveito para compartilhar da inciativa do blog Markenting em Odontologia e seu MovimentoOdontologia na Internet, que visa integrar e atrair mais colegas para espaços como este.
   Criar um blog não é um bicho de sete cabeças, e não vai tomar tanto seu tempo assim. Confesso que eu pensava o contrário antes, mas fui contaminado pela ação benéfica de tudo que se compartilha por aqui.
   Você pode utilizar vários serviços gratuitos, como este que utilizo, Blogger,ou qualquer outro servidor e mandar ver. Basta ter paciência, pois no começo você precisará dela para estudar um pouco, caso não tenha familiaridade. Mas vale a pena!
   Então, nada melhor do que aproveitar o dia das crianças para começar... 

              amilton 
     

             


            

Superproteção


        Nos últimos dias, dois pequenos pacientes e suas mães, por vezes ''impacientes'', chamaram minha atenção.
        O primeiro tinha 13 anos e colado à ele estava a mãe cuidadosa ao extremo. Começou logo dizendo: ''Cuidado doutor com o 'reizinho', meu príncipe...''. E 'reizinho' era tímido ao extremo, não respondia nada que eu perguntava, e quando o garoto esboçava a possibilidade de falar algo, lá vinha a mãe superprotetora  falando, atropelando o coitado do garoto. Reizinho não era o nome dele, claro, mas o apelido carinhoso que a mãe adotou. E o garoto chorava por tudo, e quando cogitei a possibilidade da mãe sair do consultório odontológico e aguardar na sala de espera, foi, então, que reizinho mostrou-se ''rei''... Gritou, gritou, e era tanto pavor que parecia que o mundo iria acabar naquele momento. E a mãe então o acariciou, sentou ao lado dele e começou a chorar também. E eu no meio daquele melodrama todo...
       O segundo paciente chegou acompanhado da mãe, mas o próprio garoto de apenas 9 anos impediu a entrada dela no consultório odontológico. Extrovertido, e seguro do que estava falando, ele nem de longe lembrava ''reizinho'' de 13 anos. 
        Duas mães diferentes, duas concepções distintas na educação dos filhos.
        Saber dizer não é extremamente importante, e a criança tem que passar por isso, tem que aprender a superar desafios,e tudo  tem seu tempo...
                                Com o tema Pais superprotetores, filhos despreparados, o Jornal O Povo de Fortaleza publicou recente matéria abordando o assunto. Segundo a matéria, a superproteção é causada pela ansiedade dos pais e o resultado são filhos despreparados para lidar com a realidade. A criança superprotegida tende a ser mais inibida,e uma série de distúrbios emocionais e até físicos podem ser desencadeados.

          Da adolescência até a fase adulta, quem passa pela superproteção dos pais tende a ser mais ansioso, tirano, inseguro e até com menos resistência imunológica.


             amilton


Leia a matéria completa em O POVO on line.

Mudanças


     Mudanças são sempre benéficas, elas devem sempre nos acompanhar, assim, o novo nos coloca diante de inúmeras possibilidades.
     Depois de dois anos escrevendo por aqui, resolvi mudar muita coisa. Começando pelo nome do blog que há tempos eu tinha em mente alguns nomes,mas no final decidi pelo De Boca Aberta. No espaço aonde quem abre aboca é o Dentista,e conta tudo... O layout também mudou, e espero que vocês tenham curtido.
     Continuarei atento ao que me acontece diariamente, e que a cadeira odontlógica, assim como todos os pacientes que até lá chegam continuem inundando minha imaginação com seus dramas, alegrias, desejos, anseios...
     Que muitas histórias ainda possam surgir...

                  amilton




                       

idi

O Incrível Aborto de Antonia


Antonia fazia pré-natal odontológico, estava grávida de três meses. Mãe de outros dois, ela aparentava tranquilidade durante as visitas ao consultório odontológico. Como muitas outras gestantes de minha área de abrangência, convencê-las de que ir ao dentista não traria mal nenhum, e que gestação não é doença foi um processo longo, demorado. E não foi diferente com Antonia...
Mas sem motivos ,ela deixou de ir ao consultório odontológico. Foi então que através do Agente Comunitário de Saúde fiquei sabendo que Antonia sofrera um aborto. Era uma menina,mas Antonia já estava em casa e passava bem.
Depois de quase um ano, para surpresa geral, Antonia retorna ao consultório acompanhando seu filho de dez anos. E foi então que Antonia contou sua história...
Depois de sair do hospital, acreditando ter perdido a filha, ela refugiou-se em casa. A tristeza, segundo ela, era enorme. O médico falou que era uma menina,mas que estava tudo bem,tinha retirado tudo que restava do feto. Medicada, Antonia foi levada para casa...
O tempo foi passando, e a barriga de Antonia só crescia,crescia... Até que nos últimos dias,prestes a dar a luz, ela descobriu que não tinha sofrido aborto nenhum, que a criança continuava lá, e que aproximava-se a hora do parto.
Levada às pressas para o hospital ela deu a luz a uma menina, que hoje cresce saudável.
Antonia nem cogitou a possibilidade de processar o médico e o hospital, ela só agradece todos os dias pela curetagem feita para remover o feto ter sido tão ineficiente que manteve a criança lá,crescendo,viva...
Um absurdo tudo isso, o pior poderia ter se concretizado, e a criança poderia ter sido retirada sem necessidade, por alegação de um aborto que nunca existiu.
Antonia teve sorte, e a criança mais ainda, que não passaram a fazer parte das estatísticas que crescem diariamente relacionadas a mortes neonatais, seja por um pré-natal mal realizado ou por pura falta de atendimento adequado durante o parto. E assim,muitas mães ainda morrem...
Que a história de Antonia não se repita tão assustadoramente...
Vida longa à Antonia!


amilton




Vítima e Algoz


Lendo o Blog do Dentista, o JV me fez lembrar da época que tive todo o meu cabelo cortado e cabeça raspada com barbeador! Isso mesmo, um terror... Um trote que me fez ficar careca por um bom tempo. Acho bom nem lembrar muito...
Depois de um tempo, que de calouro você não tem mais nada, e é aí que vem a vingança. Bem,mas minha vingança não contemplou cabeças raspadas, não,nada de violência física. Mas criou uma confusão na Faculdade de Odontologia que estudava. E não posso dizer que este post também não existiria sem a célebre participação da "portuguesa",como era chamada minha amiga Indira ,que veio de Lisboa cursar Odontologia por aqui.
Eu e Indira aproveitamos a ausência do professor na sala dos calouros e fomos nos vingar. Sérios e portando documentos que nos identificavam como representantes de uma ONG que recrutava acadêmicos de Odontologia para estágio, para isso seria apenas necessário pagar uma "simbólica" taxa, e uma foto 3x4 para a ficha de inscrição. Dos 40 alunos, apenas 1 não se inscreveu porque não estava com o dinheiro e nem a foto. Mas já era suficiente... Eles caíram no nosso conto!
Pegamos as fotos e afixamos na entrada da faculdade com os dizeres: ODONTO-OTÁRIOS, e lá tinha o mapa com a chegada até o churrasco que faríamos no dia seguinte com a grana que eles deram para a tal ONG. Um dos calouros ficou irado, queria a grana de volta, e a foto dele também,claro! Fomos todos parar na coordenação do curso! Devolvemos a grana dele,mas o churrasco foi um sucesso,e os calouros também marcaram presença.
Depois desse fato, eu e Indira nos exilamos, e ficamos um bom tempo sem andar pelos corredores da faculdade.
Mas tenho certeza que pela beleza natural de Indira, dos seus olhos verdes estonteantes, acho que nenhum calouro seria otário suficiente para não ir ao churrasco...


amilton

Yokut


Da rotina diária do consultório odontológico, do previsível ao inusitado, tudo pode acontecer saindo da boca de pacientes por vezes impacientes, inseguros, tristes,alegres...
Muitos confundem as relações sociais e levam para o lado sentimental beirando ao amor platônico codificado em idas ao consultório para tratamento. Foi assim com uma senhora que queria porque queria passar o carnaval comigo, e haja paciência para sair dessa saia tão justa. A ética sempre prevalece.
Hoje uma adolescente insistiu em saber se eu tinha "YOKUT". Subitamente falou: "Você tem yokut?", e eu respondi que não ,não tenho. A mesma paciente já havia deixado inúmeros bilhetinhos com flores e desenhos de corações. Até querer me adicionar no yokut dela.
Não alonguei o papo sobre a rede de relacionamento virtual confundida pela paciente, mas tratei de mudar o foco da conversa para algo mais real, sobre o tratamento dela que estava findando e algumas recomendações de higiene bucal.
E o yokut? Bem, o yokut que ,na verdade, nada mais é do que o famoso orkut , foi apenas o coadjuvante da tentativa da adolescente de começar uma conversa que não fosse restrita aos assuntos de Saúde Bucal. E o yokut ficou para trás...


amilton

O Pé do Meu Dente III ou O Bicho da Cárie


Quando Marcelo soube que iria ao dentista na manhã seguinte ,seu coração disparou. Mas ele não sabia explicar se era de medo, de curiosidade, ou de "algo" que pudesse fugir das suas expectativas de um menino de apenas 8 anos de idade.
Da última visita restou apenas um dente de leite guardado debaixo do travesseiro à espera,incansável, pela "suposta" Fada do Dente, que a mãe de Marcelo jura que não é ela... Sim, o dente de leite foi miraculosamente substituído por uma nota de dez reais, e Marcelo sabe que fadas podem até existir,mas que não andam distribuindo "grana" assim não, debaixo de travesseiros.
Para Marcelo, os sonhos são a melhor forma de fugir da pressão e rotina de acordar,ter que ir pra escola, estudar, e,pior, ter que acordar mais cedo porque sua mãe o levará ao dentista.
Nos sonhos de Marcelo os dentes têm vida, tomam formas,aparecem e vivem por conta própria. E foi justamente, na noite anterior da ida ao dentista ,que Marcelo acordou rodeado de doces. Eram muitos,muitos doces, e ele não acreditava no que via, só pensava em devorar tudo aquilo bem depressa, pois vai que não era real e "cabum",ele acorda. No meio de tudo aquilo apareceram vários dentes que Marcelo passou a chamar de "Soldados Molares", e estes tentaram em vão arrancar Marcelo dali.Mas o susto maior veio depois,porque mais doces começaram a cair na cabeça de Marcelo, e por fim ,um ser fantasmagórico tomou conta da cena, era o "Bicho da Cárie" que tentava convencer o garoto a comer mais e mais doces. Mas os "Soldados Molares" trouxeram reforços, e como num passe de mágica apareceram de uma só vez "Dona Fadinha Escovinha" e o "Super-Flúor", dois super-heróis que Marcelo jura,ainda hoje, que existem de verdade. E o Bicho da Cárie foi destruído por Dona Fadinha Escovinha e pelo Super-Flúor, e com a ajuda dos Soldados Molares Marcelo caiu na real, e viu que comer doces demais pode causar cáries, e que escovar os dentes é o melhor caminho...
E Marcelo acordou mais uma vez achando que tudo era real, e que sonho mesmo era ir ao dentista com sua mãe.

amilton

A volta de Doug Funny


Tudo parecia tranquilo demais no consultório odontológico, tranquilo até o momento que aquele garotinho da semana passada, que dizia ser o personagem Doug funny, retornou para atendimento. "Olha não vim só não ,viu?", entrou falando alto, e completou: "Trouxe ajuda!". A ajuda que ele se referia , vim a descobrir minutos depois, se tratava do irmãozinho dele de apenas 2 anos, que estava mais para o personagem Dennis- Pimentinha.
O Doug sentou na cadeira odontológica, o pai do lado,e a mãe tentava segurar Dennis,mas foi inevitável. Ele começou a correr dentro do consultório, derrubou cadeiras, puxou bandejas, derrubou fotopolimerizador,e enquanto isso , Doug ria desesperadamente, e olhava pra minha cara com ar de vingança,e eu sem saber o que fazer. A auxiliar largou o sugador e saiu tentando segurar Dennis-o Pimentinha, que convenhamos ,estava mais para formiga atômica de tanto que correu dentro do consultório. Depois de devidamente imobilizado pela mãe, Dennis é retirado aos gritos, e Doug começa a chorar...
Minha sexta tinha que terminar assim?!?
Depois de muito tentar, Doug Funny deixou que realizasse um selante na boca dele,mas isso depois de mil promessas de brinquedos e mais brinquedos por parte do pai.
E a família Funny saiu do consultório...

Já estou pensando quantas conspirações acontecem para que muitas loucuras surjam numa sexta,e tudo que eu queria era ir pra casa...



amilton


Que diabo é isso doutor?!?


Muitos pacientes hipocondríacos e "pitiátricos" visitam a Unidade de Saúde da Família à qual trabalho. Toda semana os mesmos rostos se repetem na ânsia de recebrem os mesmos medicamentos,e sempre,quase sempre, são as mesmas reclamações,os mesmos problemas que já se tornaram crônicos na cabeça deles. Muitos já chegaram até o consultório odontológico simplesmente porque estavam querendo aquele "remedinho". E depois de incansáveis minutos tentando esclarecer que remédio somente prescrito na devida necessidade,lá estão eles na outra semana.
Durante esses dias,uma senhora, frequentadora assídua dos corredores da unidade de saúde, levou a filha adolescente para o dentista. Nada foi encontrado ,nenhuma cárie,nada,mas a mãe da paciente relutava e afirmava que algo estava errado com a boca da filha dela. Não podia ser, a filha dela tinha que ter a doença cárie. Fiquei ouvindo ela falar: "Mas doutor, ela tem sim a doença na boca", e olhava pra adolescente e retrucava-"Num é menina, diz ai que tu sente dor na garganta..."- e a adolescente,tadinha, coagida a afirmar que sentia dores na garganta. Daí falei que então ela seria encaminhada para o médico que estava na sala o lado,e então ela disse: "No médico? Não,ele já disse que ela num tem nada,por isso estou com ela aqui porque o senhor vai ver que ela tem problema na boca sim...". Depois de muito conversar com ela, nada adiantava para apagar,deletar da cabeça dela que a filha não tinha nenhum problema físico. Cheguei a pensar,mas não falei ,que quem percisa de tratamento é ela, a mãe e não a adolescente coagida pelos caprichos de uma mãe atormentada pela hiponcria e que tenta repassar os problemas que estão na cabeça dela, a mãe,para a filha. Ela saiu insatisfeita...
No outro dia lá estava ela novamente, com a filha mais nova, reclamando que a garota estava com um caroço na boca e devia ser câncer. Na idade dela,8 anos,bem pouco provável que seja câncer de boca,falei. Ao proceder ao exame clínico encontrei no lábio inferior da garota um pequeno mucocele,provavelmente ocasionado por trauma físico local. Expliquei para a senhora o que significava aquele "carocinho" que já estava a dois meses lá,segundo relato da paciente. Foi feito pequeno procedimento de marsupialização da lesão. No final,nas recomendações, falei à senhora de todos os cuidados pós-operatórios que ela deveria ter com a filha, e atentei para alimentação que deveria ser pastosa naquele dia. Então ela saltou falando: "Pastosa, que diabo é isso doutor? Aonde eu acho esse remédio? Prescreve aí!!". Confesso que fiz esforço grande para não rir na cara dela, e xpliquei que pastosa é o tipo de alimentação,de comida que deveria ser mais líquida e não sólida,dura etc. Ela parece que não gostou muito não,enxerguei no olhar dela uma certa tristeza,talvez porque ela esperasse que pastosa fosse um remédio que ela levaria para casa. E ela saiu levando a filha, faz dois dias e eu ainda não a vi pelos corredores da unidade de saúde.
Mas ela voltará, com certeza voltará...


amilton


Doug Funny no Dentista


Quando aquele garotinho de quatro anos de idade sentou na cadeira odontológica, suas primeiras palavras foram: " Sou o Doug Funny!". Bem,pensei,tudo bem, e lembrei já ter assistido a alguns episódios dessa série de desenhos animados que fizeram sucesso no começo da década de 90,e que agora,segundo o mais novo fã,os desenhos de Doug o inspiraram.
O pai do pequeno paciente disse que o filho havia assistido a um desenho do Doug no qual aparecia um dentista,e aí o pequeno perguntou: "Você é o cara do dente do Doug???" Respondi que não, que não era o cara do dente do Doug, e já esperava prantos de choro do garotinho por talvez ter destruído os sonhos dele. Mas daí ele respondeu: "Ainda bem...". Também na hora não entendi o "ainda bem" dele,mas imaginei...
Agora pesquisando, descubro um episódio no qual o persongem Doug sofre de dores de dente, O Desatre Dental , e passa a noite tendo pesadelos imaginando sua ida ao dentista. Ainda bem que não afirmei ser "o cara do dente do Doug" quando o garotinho perguntou.
Durante todo o exame ele insistiu que era o Doug Funny, e eu já estava acreditando ser possível tal comparação,se não fosse pela idade. Doug não tem quatro anos, é bem mais velho,tem 11 anos e meio e adora escrever num diário , é apaixonado por Paty Maionese, tem um cachorro chamado Costelinha,uma irmã descolada, a Judi, que faz teatro, e seu melhor amigo é o Skitter. Doug "viaja" na imaginação, talvez por isso o pequeno paciente queria tanto ser o personagem.
Pelo menos, o garotinho não disse ser um daqueles monstros japoneses que infestam as telas das tvs diariamente em lutas descomunais. Menos mal...

amilton

Notícias de Maria Audenete


Sobre a história de Maria Audenete, publicada no post intitulado O Curioso Caso de Maria Audenete, ficou a dúvida inquietante de como se desenrolará os dias da jovem de 28 anos que vive no corpo de um bebê de oito meses, que ainda tem dente de leite, que não anda, que não fala, e depois de aparecer na TV local e nacional,e de receber promessas de políticos. Como ela está hoje?
Reproduzo reportagem publicada no Jornal O Povo publicada nesta segunda-feira:
É como um segundo nascimento. Aos poucos, Maria Audenete, 28 anos em uma vida de oito meses, vem à tona. "Ela tinha a cara inchada, não tem mais. E tava muito descorada. Agora, a gente vê os lábios dela bem róseo. O bucho era fofo, tanto fazia ter comida como não. Já obrou sem precisar tomar remédio, graças a Deus", vigia,dia e noite, Francisca dos Santos (dona Dôra). Foram 20 dias de internação,no Hospital Universitário Walter Cantídio. Audenete iniciou o tratamento-um comprimido,em jejum,para sempre-que lhe possibilitará recuperar o mínimo dos anos perdidos.
Ela deve "crescer coisinha pouca", espera dona Dôra, além de andar e falar. Difícil é compreender o mundo depois da porteira. O desenvolvimento mental de Audenete, pelo retardo no diagnóstico e no tratamento do hipotireoidismo congênito, deve se limitar a uma infãncia. Foi a primeira vez," que ela teve esses exames.Pra não dizer que ela nunca tinha ido a médico,levei,uma vez,ao hospital de Caucaia. Uma doutora só fez olhar,examinou,botou ela na mesa,mediu e disse: 'Mãezinha,não se pode fazer nada. Só com Deus'.Aí, a gente voltou,achando que amenina nao tinha nem jeito mais". Isso foi quando "a mãe (de dona Dôra) ainda era viva... a mãe já fez oito anos de falecida".
A morte do pobre começa pela ignorãncia.Pelo desaparecimento do mundo.Passou o agente de saúde,passaram-se as eleições e só dona Raimundinha, que assa churrasquinho no Tbapuá,percebeu Audenete. bateu fotografia e mostrou na televisão. Trouxe repórter até de São Paulo. E foi tanto exame, que dona Dõra arruma um jeito para resumir: "Sei bem do raio-x...Exame da cabeça,das mãos,dos pés,costela,barriga,ultrassom...Exame de sangue,urina,uma tal de coleta... Fizeram um exame mnuma máquina pra ver o que ela tinha na garganta. Tinha dois 'carocim',do lado e d'outro,parece um caroço daquelas fava de boi".
Ainda não é fácil chegar até Muquém,localidade encravada no mato,onde a família de Raimundo Nonato Ferreira do Nascimento (seu Mundico) enraizou-se. A estrada se desmancha sob os pés ( o carro mesmo desistiu). Esse é o caminho mais curto. Da primeira vez foi pior,embrenhando-se pelo "língua de cobra"-como o povo apelidou o arrodeio. E,às cegas,valendo-se da curiosidade alheia;todo passante conhecia "a-menina-da-televisão","a mulher-bebê".
Agora, dona Raimundinha, que deixa o preparo do churrasquinho para servir de assessora da imprensa,levando repórter a qualquer hora, faz questão de ir, ajudar na travessia. A Prefeitura de Caucaia-município na Região metropolitana de Fortaleza, do qual Muquém é um "primo pobre"-promoteu ajeitar a estrada, e a chuva não deixa. Passou só o trator. Serviço que vai por água abaixo. Mas,para dona Dôra,que ainda espera por uma ma´quina de costura para fazer seus remendos, as coisas estão melhores.
É que a filha que ela escolheu criar,aos poucos,renasce. NO Hospital Walter Cantídio, Audenete ganhou brincos (foi quando a jovem furou a sorelhas),uma bota(ela calça número 20) e um maiô. "Já tirou foi foto de maiô e bota!",ri-se dona Dôra. Está menos inchada,"e é porque comeu uma 'baciada' de sopa!". Descobre o redor."Ela não tinha ânimo pra nada.Hoje, a gente pega debaixo do braço dela,ela quer correr!". Já sobe e desce do sofá. "Ela não fazia isso". Dia desses, chegou até a cozinha.
Aos poucos, Maria Audenete vem à tona. "Da vista do que era, ela tá excelente. Porque eu não via os olhos dela,agora ,vejo". Aos poucos, vai saindo do silêncio. "Eu ensino:'Danete, a mamãe,o papai'... Ontem, cheguei da rua,ela tava chorando. Eu ouvi quase direito ela dizer 'mã-mã',pedindo pra mim tirar ela do berço", vbigia dona Dôra.

Audenete ficou internada no Hospital Universitário Walter Cantídio ( da Universidade Federal do Ceará) entre 23 de Junho e 12 de Julho deste ano. O período de internação "serviu para a gente fazer exames e iniciar o tratamento",sintetiza o endocrinologista Miguel Hissa. Foi confiramdo o hipotireoidismo congênito.
A doença é hereditária e causada por anormalidade na foramção da tireóide. A falta de enzima impossiblita que a glândula produza quantidades adequadas do hormônio tireoidiano (T4). Isso compromete uma série de processos metabólicos, como o cresciemento e o desenvolvimento mental.
Dificuldade respiratória, choro rouco,prisão de ventre,sonolência excessiva,hpérnia umbilical e pele seca são alguns dos sintomas. O Teste do Pezinho,realizado no recém-nascido e gratuito,é fundamental para o diagnóstico precoce. A cada quatro mil nascimentos,em me´dia, ocorre um caso de hipotireoidismo congênito.
O tratamento é por via oral, sob orientação médica. Quanto mais cedo for iniciado,maiores são a schances de reversão das sequelas. O remédio prescrito para Audenete foi o Levoid,ou Puran T4, com o princípio ativo levatiroxina 50mg. Acaixa (30 comprimidos) custa entre R$ 9 e R$ 12. Miguel Hissa fornece amostras grátis para Audenete.

Além da certidão de nascimento, a guia do Hospital Universitário Walter Cantídio, emitida no dia da alta médica (12 de Julho), diz um pouco mais de Maria Audenete Ferreira do Nasciemento: ela pesa 11 quilos, tem 76 centímentros de altura, "senta,anda com apoio,usa mão direita para comer com colher,boa interação social".

Adote um Amigo


Quando aquela paciente de apenas 12 anos de idade entrou no consultório odontológico e começou a falar sobre o amor que ela sente por todos os cães e gatos que ,por iniciativa dela,seus pais adotaram, então passei a me identificar com a sequência de relatos dela. Dos três cães e quatro gatos da casa, todos foram trazidos das ruas e receberam carinho,cuidados e muito amor daquela família. A mãe, toda orgulhosa, falava: " Ela vai ser veterinária doutor, ela cuida de todos com muito amor,e se qualquer animal aparece na nossa porta com fome,doente,lá está ela cuidando deles...". Incentivei aquele ato louvável, e lembrei dos meus cachorros,em especial de um que também levei das ruas a cerca de dois anos. Skiter,como passei a chamá-lo, tinha alguns meses de vida e estava vagando pelas ruas próximas ao consultório que trabalho. Com fome,frio e doente,ele foi levado para casa e recebeu cuidados de um veterinário. Assustado, qualquer intenção de carinho era repudiada,ele encolhia-se todo,com medo,já instintivamente defendendo-se como devia fazer nas ruas. Foi demorado o processo de adaptação do Skiter,e hoje,dois anos depois,ele não lembra em nada aquele viralata puguento,magro e doente. Lembrei também do Leão,um viralata que foi adotado pelos alunos de uma escola carente. Se eu pudesse, como mesmo disse a pequena paciente, "levaria todos os cachorros e gatos que sofrem nas ruas para minha casa". Existem instituições que recolhem esses animais das ruas e colocam para adoção, como a UPAC( União Protetora dos Animais Carentes). Um exemplo de amor e de respeito pela vida repassado por uma criança de 12 anos...

amilton



ADOTE UM AMIGO ( Para Refletir):


Só adote um animal depois de refletir sobre isso e em todas as consequências que a posse responsável de um bicho pode trazer para a sua vida e para a vida das pessoas que moram com você;

Pergunte tudo sobre o estado de saúde e as condições do animal. Verifique também se o animal foi devidamente vermifugado e vacinado;

Após a adoção, é necessário levar seu bicho de estimação ao veterinário para saber quais os cuidados a tomar,como o tipo de ração e vacinas.

"Tenho Câncer na Boca"


Quando aquela senhora de 56 anos chegou ao consultório odontológico procurando, assustada, mostrar,segundo ela,"aquele caroço" na boca, eu não imaginava ouvir uma sequência de relatos de uma vida aparentemente normal.
Ela começou falando que não gostaria de morrer, que estava com muito medo,que a vida dela tinha sido sempre marcada por tragédias pessoais. Não queria partir e deixar sua família,sua casa,enfim,mostrou-se muito apegada à vida material que ela vive. E pior, estava sofrendo por antecipação. Acreditava,segundo ela, que estava com câncer de boca."Tenho câncer na boca,tenho certeza disso doutor",afirmou ela.
Aquela senhora estava a dias vivendo em torno de algo que ainda nem se quer existe concretamente. E tudo na vida dela mudou por causa disso,e mal sabe ela que a força do nosso pensamento é tão grande que podemos tornar realidade tudo aquilo que traçamos dentro de nossas mentes. São sintonias de energias que serão trocadas,tudo guiado por nossa mente que trabalha a cada segundo,sem parar.
Depois de feita a anamnese e passado ao exame clínico da cavidade bucal daquela senhora, foi constatao realmente uma pequena lesão com características hiperplásicas,possivelmente ocasionada por trauma físico devido à uma prótese total mal adaptada usada a mais de 10 anos pela paciente, que foi orientada a não usá-la por uma semana e retornar ao consultório para remoção da lesão.
Aconselhada a mudar seus pensamentos, e esclarecida sobre tudo, a senhora pareceu mais tranquila, acho até que já não se via mais morrendo por causa de tudo aquilo que ela relatou.; E saiu para retornar uma semana depois...
Quantos problemas criamos em nossas mentes e que nunca existirão realmente?
Quantos sofrimentos antecipamos?
E nossa mente trabalha sem parar...

amilton


A História de Ricardo


Quando encontrei Ricardo pela primeira vez ele parecia um garoto de cinco anos muito tímido,mas bastaram algumas palavras para a timidez dar lugar a largos sorrisos no rosto e muitas,muitas histórias contadas por Ricardo...
Cursando a pré-escola, mas com oito e não com cinco anos como aparenta, Ricardo é o centro das atenções aonde passa. A timidez logo dá lugar a uma metralhadora ambulante que fala,fala e fala. E as palavras saem,muitas vezes,sem nexo, mas vão ganhando sentido à medida que entramos no mundo particular dele,e damos vazão às suas histórias que correm soltas,livres.
A sua experiência com dentista era zero,ele nunca teve acesso ao consultório odontológico,e descobrimos ao lhe dar uma escova de dente que aquele não era um hábito na sua vida. Não tinha noção de como segurar a escova, de como usá-la. Fomos perseverantes com Ricardo, seguramnos diversas vezes suas mãos e repetimos incontáveis vezes a técnica de escovação. No final, ele já estava fazendo tudo sozinho. E sentiu-se orgulhosos por ter aprendido tudo. Era só olhar o sorriso que estampava seu rosto.
Ricardo não nos deixou um só minuto durante os dias que estivemos na escola que ele estuda. Alguns coleguinhas que se recusavam a realizar as atividades educativas em Saúde Bucal eram encorajados por Ricardo a perderem seus medos e seguí-lo,e ele preocupava-se com seus amiguinhos. Exemplo de amizade e carinho por quem não recebe tanto diariamente. Ricardo é filho de pais separados,mora com a mãe eo padrasto numa casa simples,e frequenta a escola a alguns quilômetros de casa.
Vimos ele repetir por duas,até três vezes a merenda que era servida,talvez a única refeição do dia.
De algumas de suas histórias ficou a lembrança de que ele adoraria ganhar um celular de presente, e o passatempo predileto de Ricardo era fazer ligações imaginárias para um número que só existia na cabeça dele. E ele conversava,conversava e ia levando um diálogo todo improvisado através de seu celular imaginário. Em nosso último dia naquela escola demos de presente um celular de brinquedo para Ricardo. Agora fico relembrando a primeira expressão de seu rostinho,atônito,como se não acreditasse no que estava nas suas mãos tão pequenas... Pegou o celular com muita força,talvez querendo saber se era real ou não,e de ímpeto começou a fazer ligações imaginárias,agora através de um aparelho mais físico,mais real... Ganhamos aquele dia!
Diversas vezes ele dramatizava andar numa moto,acelerava e saia correndo... os professores e alunos adoravam esssas peripecias de Ricardo,e riam,e ele também ria como se não entendesse nada.
Talvez Ricardo passe por inúmeras dificuldades diariamente,mas o que mais me chamou a atenção foi sua felicidade diária, sua capacidade de ser feliz fazendo os outros rirem de suas brincadeioras inocentes.
Que muitos Ricardos possam existir,ainda,dentro de cada um de nós...

amilton


PS.: Os nomes são fictícios,mas a história é real.

Fumo no Dente


No final de mais um dia de atendimento uma paciente me surpreendeu, e realmente tive a certeza de que quando achamos que vimos tudo,daí surge algo tão inusitado quanto colocar Perfume no Dente. Sim, eu não acreditaria, caso a senhora que me abordou nos corredores da Unidade de Saúde alegando dores fortíssimas, e querendo livrar-se do dente porque não suportava mais colocar "fumo",a folha do tabaco, dentro da cavidade dentária.
Perguntei,logo de início, se a ação do tabaco dentro da cavidade de cárie aliviava a dor, e ela respondeu que sim, que a dor "passava correndo". Bem,pensei, pode ser apenas um fator placebo, quem sabe.... Mas o fato é que a paciente afirmou categoricamente que todos os dias colocava várias porções de fumo na cavidade.
Incrível como as "lendas" que se seguem,os mitos que se propagam viram fatos reais no cotidiano de pessoas como essa senhora. Usar o analgésico ela nem cogitou, e olha que já teve uma paciente que até alegou colocar,pingar gotas de esmalte de unha dentro da cavidade, e questionada se tinha tomado algum analgésico,ela rapidamente respondeu que já tinha usado sim,mas que havia colocado o comprimido dentro da cavidade de cárie.
Depois da Gasolina ser usada para aliviar a dor de um paciente,eu pensava ter visto tudo,mas enganei-me mais uma vez...

amilton

Tão distante, Tão próximo



Durante todo o mês de Junho, o consultório odontológico público que trabalho na Estratégia de Saúde da Família passou por sérios problemas de manutenção, e foi,então, que aproveitei os dias que fiquei fora do consultório para me dedicar a uma das comunidades mais carentes dentro da minha área de abrangência da Equipe de Saúde Bucal que integro.
Separada por barreiras geográficas, com um acesso difícil e que foi extremamente dificultado pelas chuvas intensas que banharam essa região por longos dias seguidos. A única ponte de acesso à comunidade havia sido destruída, tivemos,então,que seguir por trilhas no meio de uma estrada com buracos e muita,muita lama... A menos de um ano atrás essa comunidade não sabia o que era ter luz elétrica, essa invenção secular ainda não havia chegado por lá.
A única escola da comunidade, com 78 alunos sempre nos recebeu com muita alegria, e durante cerca de 20 dias pude realizar junto à comunidade a concretização de um trabalho que começou com a realização de oficinas para capacitar os professores da escola para atuarem como multiplicadores do nosso programa de Saúde Bucal na escola; alunos e pais também foram engajados e capacitados. Por fim,relizamos a técnica de Tratamento Restaurador Atraumático (ART) na própria escola,utilizando o Ionômero de Vidro com sua comprovada eficácia.Também distribúimos escovas e creme dental para todos so alunos que se submeteram à técnica de ART,e a cada dia,antes de cada sessão,eles recebiam instrução de higiene bucal.
Muitos fatos me chamaram a atenção durante todo esse tempo. Da hospitalidae de pessoas tão carentes e que têm muito a oferecer ,até a total falta de descaso para famílias que vivem à margem da sociedade e tão próximas do progresso, da globalização,mas que parecem ter parado no tempo....
Durante a reunião com os pais dos alunos, ouvi de uma das mães o relato de que ninguém na casa dela possuía escova de dente:"Escova de dente na minha casa? È luxo...". Muito complicado, é preciso ter muita cautela para não parecer o "dono da verdade", ou o "cara que veio de fora e acha que tá certo, que pode impor". Saber ouví-los é essencial.Compartilhar o saber é crucial.
Algumas crianças me chamaram a atenção, mas especificamente uma,um garotinho de oito anos de idade,mas que aparenta ter cinco anos. Filho de pais separados, Renato vive com a mãe numa casa simples a alguns quilômetros da escola. A hora do recreio é a alegria de todos, e em especial de Renato, que repete a merenda diversas vezes,três,quatro vezes... Talvez a única refeição do dia.Renato já foi esquecido na escola por sua mãe várias vezes, então as professoras o levam pra casa delas. Incrível como elas se dedicam a eles como se fossem seus filhos. Cecília foi outra que chamou minha atenção. Cecília sofre de degeneração muscular, não faz tratamento e sua situação piora a cada dia. Mas sua mãe a leva a escola com frequência.
Renato e Cecília são apenas alguns exemplos,e suas hitórias não terminam aqui...


amilton


PS.: Os nomes são fictícios.