Especial


Entende-se saúde como um bem estar físico, social, mental, cultural, e não simplesmente o fator doença entendido como o simples fato de o corpo não funcionar perfeitamente. Se não tivermos educação, moradia, saneamento básico, lazer,e se não estivermos socialmente incluídos dentro de um contexto favorável,com certeza, não estaremos no caminho certo...
Muitos pacientes que chegam até o consultório público não entendem o real valor desses fatores no desenvolver de sua saúde corporal, mental, física. Acreditam que, por ser público, deve ser e continuar com falhas, com brechas que não permitam mudanças significativas. Para muitos, o público significa de graça, imperfeito,e assim deve continuar porque não temos nada a ver com isso,e bom mesmo vai ser o plano de saúde que pago, a escola que pago,e por aí vai. Quando, na verdade, o público não é tão de graça assim,e somos nós que pagamos, que promovemos sua funcionalidade através de impostos que depositamos nas contas do governo, seja ele federal,estadual ou municipal.
Existem grandes exemplos de instituições públicas sérias e comprometidas,e que nem sempre o que é privado irá significar retorno de bons resultados. Assim como o oposto também existe. E inúmeros casos poderiam ser citados...
Pela segunda vez atendo, no consultório público, uma paciente de 15 anos, vou cháma-la de paciente S. A jovem S sofre de paralisia cerebral, ela é extremamente educada, simpática, alegre, e sinto toda vez que ela chega ao consultório uma paz muito grande. Ao conversar com a responsável de S, ela relatou que já havia tentado colocá-la numa escola particular, mas todas as escolas da cidade haviam rejeitado S,e sempre alegaram que não tinham condições de educá-la,e afirmou que depois de muito tentar, não porque S se recusasse a frequentar a escola, pelo contrário, S adoraria ir diariamente à escola. Achei tudo um absurdo, primeiro porque é crime, está previsto na lei, tanto devido o preconceito quanto a recusa de receber S por se tratar de um paciente especial.
S nunca frequentou uma escola, tem 15 anos e nunca esteve ao lado de outras crianças numa sala de aula. A família dela resolveu que seria melhor não insistir, pois teme que ela possa sofrer preconceitos numa escola que não tem professores capacitados para recbê-la,e também porque já se recusaram mesmo antes de S pôr os pés na escola.
Lembrei de uma escola pública, nessa mesma cidade que trabalho. Uma escola simples,mas com professores e direção engajados socialmente com a comunidade. Lá não existem núcleos especiais,salas separadas para deficientes, pelo contrário, eles estudam juntos com os outros alunos, e nesta escola há varios alunos com Síndrome de Down, deficientes físicos,e com paralisia cerebral, como no caso da jovem S. Foi a primeira escola publica da cidade que trabalho na qual vi a presença de rampas para deficientes terem acesso à escola.
São exemplos como esse que ainda fazem eu acreditar que tudo pode dar certo, que ainda temos chances de mudar muitas coisas mesmo com poucos recursos,e que só teremos realmente saúde quando tivermos cidadãos mais educados, trabalhando, produzindo, moral e culturalmente. E que,.no futuro, casos como o da jovem S sejam apenas exceções.
Abraço a todos