Um Dente, Uma Vida, Um Natal


       Quando Cristina veio ao mundo a Alemanha era dividida por um muro, o Brasil vivia uma ditadura, carnaval e futebol amenizavam as dores fisicas e emocionais. Ilusões substituíam uma realidade sem analgésicos, sem possibilidade de curas. O mundo de Cristina era em preto e branco, o mesmo preto e branco da TV utilizada para viagens através das fantasias criadas por  Monteiro Lobato e o televisivo O Sítio do Pica-Pau Amarelo.
   Cristina chegou ao consultório odontológico procurando curar uma dor de dente que a atormentava a dias. Sua história de vida veio junta com dúvidas e dores embaladas para distrair e amenizar o clima retratado em tons cinzas. Talvez essa época  e tudo que ela representa simbolizado por desejos de paz, amor,renascimento, talvez isso tenha diminuído as dores de Cristina... Talvez sim, talvez não...
   O certo é que Natal não representava muita coisa para ela. Fugir de tudo era o que desejava. A dor a atormentava. A paz era insólita demais. Um dente, um inferno em sua vida. Retratar seus lamentos em poucas linhas é quase impossível...
   Talvez ela nunca tenha a família reunida numa noite de Natal, talvez não troque presentes, não vá a cultos, não acredite em Papai Noel desde os sete anos de vida, mas uma coisa é certa: ela quer paz. O trabalho voluntário para ajudar seus vizinhos menos favorecidos, mesmo sendo ela tão carente, é uma constante em sua vida. E ela não liga muito para o que pensam dela. Os comerciais da TV, a vida artificial que ela proporciona está longe do Natal de Cristina. Ele é muito mais que isso: é amor ao próximo, aos filhos, valor ao pouco que possui, à luta diária para sobreviver... E Cristina quer sempre paz, sem dores, sem dúvidas...
    Aproveito a oportunidade da história de vida de Cristina, e como tantos outros pacientes que chegam à minha frente, que senti nas suas dores e exemplo de vida uma forma simples de retratar o Natal e tudo que ele representa. 
    Mesmo que existam dores, mesmo que existam obstáculos, o mais importante sempre será o amor, a paz, a harmonia, os nossos sonhos, o próximo que está ao lado, a ajuda simples e simbólica.
   Que tenhamos sempre paz, harmonia, que todos os nossos sonhos se tornem reais, e que venham muitas histórias por aí em um ano novo repleto de coisas boas!
  

Dos loucos, alcoólatras e algumas bocas

  Dois casos em menos de 48 horas caíram na minha frente através de duas histórias protagonizadas por pessoas incomuns, caracterizadas por angústias, impaciência,loucura e vícios. Tudo isso chega,sim,a um consultório odontológico público... E são minhas escolhas, e são as escolhas deles,pacientes, que nos colocam frente a frente num enredo caracterizado por tortuosos desfechos.
  A irmã de um pequeno paciente chegou ao consultório e insistiu veementemente que a criança precisava de um clareamento. Até aí tudo bem, mas ela conhecia a boca do menor decorada, cada dente, cada pedaço da boca dele era descrito por ela( juro que me assustei), mas o susto mesmo veio quando ela descobriu meu telefone e passou a me ligar,depois descobriu minha casa e foi tocar a campainha. Então me falaram que ela é bipolar,e coitado de mim, a bola da vez, ou dela,quem sabe. Depois de tanto insistir ela sumiu...
  Vinte e quatro horas depois um senhor alcoolizado entrou no consultório e insistiu que eu extraísse um dente hígido dele e sem anestesia (juro que deu vontade). Esse senhor ainda voltou mais duas vezes,e em todas estava caindo,literalmente bêbado. Deve tá numa ressaca daquelas agora ( e que não volte mais).Certo que outro louco já invadiu o consultório que eu trabalho e queria quebrar tudo. Prenderam ele depois de  sair do consultório escoltado pelo segurança, ele foi tentar quebrar a igreja evangélica da rua ao lado. Passou a noite na prisão pra compensar.
  Pra finalizar, despejo toda carga de boas energias pra quem mora por aqui e pra quem tá lendo essas poucas linhas. Que a paz substitua a loucura de corações aflitos e sedentos de educação, amor, cultura, lazer saudável e paz, muita paz.

O caso da dentadura cariada

           Muitos pacientes são tão caricatos quanto excêntricos ,suscitam minham imaginação e às vezes chego a duvidar da lucidez(deles,não minha ).E graças ao tempo de conversa enquanto abrem-se bocas,acionam-se motores,e mais conversa,e mais... E surgem histórias como esta,que só poderiam ser protagonizadas por eles mesmos,os próprios pacientes,e suas dúvidas,crenças,e medos.Dessa forma, mais um caso meio louco chegou até o consultório odontológico, e eis o fato:
        Um senhor de 68 anos durante exame de prevenção ao câncer de boca foi orientado a usar prótese total superior e inferior.Logo após ser mencionado o nome "dentadura", o senhor falou:
        - Não,nunca usei,faz anos que vivo assim,mas porque quero que seja assim...
        -E o senhor não gostaria de que seja feita uma dentadura? Nunca sentiu falta dos seus dentes?
        -Falta,falta doutor,até que sinto,mas já acostumei...
        Ele completou:
         -Gostaria  mesmo de uma dentadura com obturação,com aquelas coisinhas pretas...
        -Coisinhas pretas? O senhor quer uma dentadura cariada? Obturada?
        -Isso doutor! Acho lindo!!Desse jeito eu até usaria uma,duas até...
        Achei que ele estivesse brincando,ou que num estado de loucura passasse a desejar uma dentadura cariada,obturada com amálgama.Mas era isso mesmo: o sonho daquele senhor era usar uma dentadura com restaurações de amálgama,simplesmente porque para ele é lindo! Lembrei de uma paciente de um colega dentista que insistia que fosse confeccionada um dentadura com aparelho ortodôntico porque ela achava lindo e tinha esse sonho: usar aparelho ortodôntico.
        Depois de muita conversa foi impossível convencer o senhor de 68 anos de que não daria (pelo menos eu não faria isso) de confeccionar uma dentadura com restaurações de amálgama,e cariada também(o que é mais doido ainda).
        Ele saiu sorrindo sem dentes na boca e sonhando com a possível dentadura cariada, e eu fiquei pensando o que mais ainda poderá aparecer na minha frente...


P.S.: O site animafest vende dentaduras cariadas (caso alguém tenha ficado interessado em usar uma) a R$ 2,50 a unidade. Pena que nunca mais vi essse senhor,ele sumiu mesmo.
   















O caso das glândulas respiratórias

Uma senhora,a última (im)paciente,conversava sem parar,e antes mesmo de sentar na cadeira odntológica foi advertindo:
-Olha só doutor,cuidado com minhas glândulas respiratórias? -Glândulas respiratórias??!!!-perguntei.
-Sim,sou anti-alérgica(esse não é o primeiro paciente que se autodenomina anti-alérgico),e minhas glândulas respiratórias não são boas não...
Feita a anamnese,e não sendo constatado nada de anormal com  a paciente perguntei:
-E a senhora tem problemas respiratórios?
-Nào,não!!!
- E como surgiu esse problema nas glândulas respiratórias?Não seriam glândulas salivares?(Pensei em xerostomia).
-Não ,não!!! É glândula respiratória mesmo doutor!Tipo assim,eu já tive um problema de pele,minha pele descamava igual escama de peixe,e daí o médico falou que eu tinha um problema nas glândulas respiratórias...
-Ah... Na pele então o problema..
.-Sim,sim...
Mas nada a impediu de abrir a boca e ser feito o procedimento.Ela realmente deve ter confundido,ou não lembrava do nome da glândula específica da pele(tentei ainda contornar para sudorípara),mas a senhora insistia em respiratória.Fazer o quê ,hein? 
E ela saiu com suas glândulas respiratórias sob a pele que descamava feito escama de peixe...

Odontologia de Barzinho

Era uma noite de sábado,e naquele barzinho tocava uma música agradável.Muitas conversas, algumas bebidas e fui apresentado a uma garota muito simpática que estava acompanhada do namorado.É aí que começa o caso de hoje,vamos lá:
Depois de muitas doses de vodka a garota descobriu que eu era dentista(pensei,putz,vai começar o ritual da “olhadinha aqui,ali”),e soltou gritando(sim,ela tinha que gritar pois a música era alta demais):
-Não acredito que você é dentista?!? Juraaa???
-Sim,sou!Mas mudando de assunto,você curte essa música que tá tocando( Nessa hora tocava Me Adora,da Pitty)?
-Cuuurto!!Mas que ótimo que você é dentista!!- e ela continuou-Estou precisando mesmo ir ao dentista,mas ta muito caro,vocês cobram muito caro!!!Preciso saber qual é o dente 27!! Quel é o dente 27?( E abriu o bocão).
-O dente 27 é aquele ali ó!!-mostrei ,enquanto ela puxava minha mão pra colocar meu dedo dentro da boca dela,bem em cima do elemento 27.(Foi constrangedor,confesso).
Eu tentava mudar de assunto a todo custo,mas ela insistia,e o namorado dela já me olhava com cara de ódio.E ela soltava mais uma pérola:
-Olha só,toda vez que eu escovo meus dentes sai sangue,por que será hein???
-Provavelmente você tem gengivite(doença da gengiva,expliquei)!
-Acho que não tenho isso aí não!!! Tenho mesmo é 5 dentes cariados,e toda vez que vou no dentista ela vai obturar uma cárie e sempre tem outra colada,bem do lado,bem juntinho...( e ela fazia gestos com as mãos,gestos desconexos,completamente).
-Você usa fio dental?
-Nos dentes não!!!( e riu,riu que achei que ela tava tendo um ataque epiléptico e ia cair dura no chão)
-Pois passe a usar fio dental,vá ao dentista e obture essas suas cáries!!!
Ao som de Rehab de Amy Winehouse o namorado dela descobriu que a gengiva dela sangra direto,que ela tem vários dentes cariados,e que não gosta de usar fio dental.E depois disso tudo ela ainda abriu o bocao novamente para mostrar que os dentes dela eram tortos e que ela precisaria usar aparelho.E eu fiz o quê?Bem,eu levantei,arrastei minha amiga,peguei a dose de vodka e fui pra outro bar...

O cavaco

Depois que esse paciente,um senhor de 56 anos chegou ao consultório odontológico,passei o dia inteiro pensando em samba de mesa.Mas por quê? Bem,vamos ao caso:

Mesmo antes de entrar,ele já foi logo falando,(quase gritando como se eu fosse surdo):
-O senhor,doutor,tira cavaco?
-Cavaco de cavaquinho senhor?-perguntei brincando.
-Nãooooo!!! De cavacão mermo ora!!-respondeu ele assustado.
O paciente deitou na cadeira odontológica,e foi feito o exame bucal.Mas ele não parava de falar,disparava segundo a segundo uma pérola.
-Já viu o cavaco???
-Já sim!!! –respondia.
-Dá pra distrair o cavaco ou não dá?
-Dá sim senhor,pode deixar comigo que se depender de mim esse cavaco sai da sua boca hoje e vai fazer a festa noutro lugar!!
-Cuma???-perguntou ele sem entender nada do que falei.
Então,o que ele queria mesmo era somente extrair,ops distrair,a raiz residual que o incomodava a tempos.E depois de terminado,ele disse:
-Eita,cadê o  o cavacão doutor? Distraiu o danado mermo??
-Sim,sim! Não se preocupe!-respondi.
De acordo com o Aurélio,a palavra cavaco significa lasca de madeira,bate-papo,,e contrariedade passageira.Também pode ser um instrumento musical de cordas,com caixa de tambor e braço longo e estreito que pode também ser chamado de banjo.Mas o grande dicionário popular- cultural –sociológico- odontológico vive e sobrevive da vida,do trabalho,da cultura,do saber sem etnocentrismos de nosso povo brasileiro.E aquele senhor saiu do consultório rindo,e ficou na minha mente  o samba Maneiras de Zeca Pagodinho com o Rappa: Se eu quiser fumar eu fumo,
se eu quiser beber eu bebo
Eu pago tudo que eu consumo
com o suor do meu emprego
Confusão eu não arrumo,
mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo,
pois tenho fé no meu apego...


E o cavaco se foi e essa música colou por horas na minha cabeça!

O Manifesto dos Frangos


           A alguns anos atrás,quando comecei a trabalhar com saúde pública,mais especificamente na Estratégia de Saúde da Família,eu e o restante da equipe(médico,enfermeiro e auxiliares) nos deslocávamos quilômetros até a sede da equipe,mas  a viagem parecia bem mais longa devido o caminho tortuoso e esburacado.
Bem,mas isso era fichinha quando chegava a hora do almoço(rsrs).Diariamente recebíamos frango(o animal era entregue quase vivo),e daí tínhamos que nos virar para que o amigo frango virasse nosso almoço.E isso já estava me cansando...Era frango todo dia,eu já não agüentava mais.E num belo dia de folga,escrevi o Manifesto dos Frangos.Nada mais justo que os próprios animais torturados,mortos,e comidos,fossem a público e escancarassem o que estava acontecendo.Então,os frangos pediram em nome da vida deles que as nossas vidas fossem também preservadas.Eles estavam ,assim,com
peninha
de nós.No final,questionavam a possibilidade de asas crescerem,e se seria possível os dentistas,médicos e enfermeiros saírem voando da cidade até o posto de apoio da equipe,e se essa era a intenção do prefeito,ou seja,economizar combustível infiltrando asas nos humanos.
    O manifesto nada mais era do que uma grande bobagem que deveria ficar entre nós,profissionais sofredores comedores de frango diários.Mas não,o dito papel com o manifesto foi parar no gabinete do prefeito(estamos lascados,pensei!rsrs).A demissão já era certa!(pensei)! Mas,pasmem,o prefeito resolveu levar tudo na maior brincadeira,e pra nossa alegria,mudou completamente o cardápio de nosso almoço,e assim,salvaram-se muitos,muitos frangos... E o manifesto rodou  nas mãos de anônimos e curiosos,mas nunca souberam quem realmente o escreveu(acho que agora podem saber!rsrs).

A Gafe

 
       Uma senhora de 60 anos de idade mostrou-se apreensiva,insegura e demonstrou medo excessivo ao entrar no consultório odontológico.Ela estava acompanhada de um jovem de aproximadamente 28 anos que demosntrou sempre estar  calmo e sério. -A senhora pode entrar com o seu filho!-Falei tentando acalmá-la, e o jovem saltou de lá com uma voz séria e contundente: -Ela não é minha mãe,é minha mulher!. Bem,fiquei com cara de bobo,tentei disfarçar a gafe e falei: -Sua esposa,certo! Então,por favor,entre com sua esposa.E os dois entraram no consultório...
          Ela poderia ser a avó dele, a mãe dele,mas era a esposa dele.
          Logo de cara,ao vê-la na sala de espera notei diferenças no comportamento,no modo de vestir.Ela usava um vestido bastante jovial para a idade,róseo,meio colado ao corpo(nada de Geisy da Uniban,esqueçam! hehe),e um batom vermelho ao extremo.Pois é,ela fisiologicamente tinha 60 anos,mas a sua idade psicológica era outra completamente diferente,a começar pelo companheiro.


          Ao tratar o casal por mãe e filho,certamente não fui preconceituoso,longe disso.Apenas cometi uma gafe que me deixou vermelho por minutos,e completamente sem jeito também.Mas adorei ver aquela senhora casada com um jovem,e feliz da vida.
         Lembrei do magnífico filme O Leitor,e a bela atuação de Kate Winslet no papel de uma senhora que vive um caso de amor com um adolescente.Novelas,filmes e seriados tentam atualmente caracterizar cada vez mais a situação.Cougar Town(essa eu adoro,Courtney Cox tá perfeita,hilária) e Accidentally on Purpose são dois seriados americanos que mostram duas jovens senhoras `as voltas com relacionamentos mais jovens.E por ai vai...
       E olhem que esses filmes,seriados e novelas,muitas vezes retratam a situacão dentro de uma sociedade complexa e até,talvez,menos preconceituosa que a de uma pequena cidade do interior nordestino,aonde vivo e trabalho,e aonde essa senhora quebra regras e age dessa forma,não se intimidando com os preconceitos que por aqui existem aos montes,como existem também em Nova York,São Paulo,Tókio etc.
      E vivam as diferenças,e pausa aos preconceitos...
         

Hipocondríacos

       Há dias que a hipocondria,de alguns pacientes ou não, me atormenta,e isso já tem se tornado algo tão frequente na rotina dos atendimentos que certos pacientes já surturam na ausência do comprimido,do remédio.Algum tempo atrás uma jovem senhora ameaçou ficar completamente nua se não recebesse a receita de tranquilizante que ela "supostamente" necessitava.Um vício de muito tempo...
   "A vida é bela,o paraíso é um comprimido",esses versos caracterizados na voz de Dinho Ouro Preto refletem um pouco aonde chegamos e até que ponto poderemos enxergar uma saída.Certamente,o paraíso passageiro encontrado numa cápsula,num comprimido,é desvirtuado pelo inferno da impaciência,ansiedade,depressão exacerbada,enfim,traumas com marcas profundas.
    Poderíamos encontrar muitos culpados,mas nunca nós mesmos,seja como pacientes ou profissionais de saúde.Inseridos num sistema hegemônico  ,centrado na doença,hospitalocêntrico e que marginaliza,ainda temos muito o que mudar.
    Depois de atender a uma adolescente,fui inesperadamente abordado pela mãe eufórica da garota que reclamava porque eu não havia prescrito nenhum analgésico para a filha.Expliquei que não havia necessidade,pois o procedimento tinha sido extremamente simples,apenas uma restauração,simplesmente.Mas a mãe da garota não se conteve,queria de qualquer forma o analgésico,simulando uma suposta dor que a filha vinha sentindo no dente a dias,o que nada foi constatado,nem por mim e nem relatado pela adolescente,que todo tempo se manteve em silêncio,enquanto a apavorada mãe falava e andava de um lado para o outro...
    Ela saiu irritada,sem o analgésico...
    Casos de pacientes hipocondríacos existem aos montes,diariamente convivo com historias bem parecidas como essa.Educar as pessoas a enxergar e viver saúde não como simplesmente a ausência de doença,mas viver em sua total plenitude, é algo que ainda precisa ser inserido na educação,seja ela individual ou da coletividade.Muitos desses pacientes precisam de tratamento psicológico,precisam enxergar muito além da dor,da falta dela,da importância de encontrar uma vida pautada na felicidade,serenidade e equilíbrio longe das fórmulas químicas disponíveis nas farmácias.
     Façamos nossa parte...


A ira de Gustavo


    Gustavo tem apenas cinco anos e chegou ao consultório odontológico acompanhado da mãe,uma jovem de 23 anos.
     Quando Gustavo veio ao mundo,sua mãe era apenas uma adolescente que acrescentava números às tão drásticas estatísticas de mães adolescentes,solteiras e completamente despreparadas.

      Sério,olhar inquieto,mãos comprimidas,e sempre ao lado da mãe o garoto não abriu a boca uma única vez até deitar na cadeira odontológica e começar a gritar,gritar e gritar sem parar.Os pedidos da mãe foram em vão,e o silêncio só veio depois de muitas promessas,de muita conversa.E logo foi interrompido por mais gritos...
      Gustavo passou a esmurrar a mãe com uma força impressionante,e a jovem completamente sem ação parecia deixar-se dominar pelo garotinho.Pedi calmamente que ele parasse,e que nada de ruim seria feito com ele,absolutamente nada.E a jovem mãe gritou,era sua vez de gritar.Foi então que o garoto começou a se esmurrar,dava murros no próprio corpo com muita força.Pedi que saíssem do consultório,e só assim Gustavo se acalmou.
       Lembrei de outros pequenos pacientes que já quebraram fotopolimerizadores,derrubaram bandejas,morderam meus dedos...
       Gustavo saiu arrastado pelas mãos da mãe que não conseguia controlar a ira do pequeno,e ele só tinha 5 anos...