Feliz 2008!!


Gostaria de reservar este espaço para agradecer a todos os meus amigos que durante todo o ano de 2007 visitaram meu blog, que deram força para que as crônicas continuassem a ser escritas,e que os sorrisos nao ficassem reclusos na memória e que as tristezas também fossem compartilhadas...
O tempo sempre se encarrega de fazer suas modificações, e assim mudam-se rotinas, mudam-se pensamentos,mudam-se pessoas...
Que possamos mudar sempre para melhor, cada um dentro das suas possibilidades, dos seus valores reais e abstratos. Fico muito feliz com os comentários de todos vocês, comentários que sempre complementam o que escrevo e que nuncam deixam a desejar nada ao texto original...
Amigos são valiosos, atitudes verdadeiras são primorosas, palavras sinceras enaltecem, abrem sorrisos, criam-se expectativas novas...
Que muitas crônicas ainda possam ser escritas, que muitas histórias ainda possam nos acompanhar, que muitos sorrisos possam ser restaurados, e muitas tristezas extraídas...
Aos visitantes assíduos desse espaço, o meu grande abraço, vocês foram muito importantes durante todo esse tempo, espero continuar recebendo a visita de todos vocês durante o ano que logo se inicia.
Muita paz a todos! Muita luz no caminho de todos vocês!
Feliz 2008!
abraços

Então é Natal...


Muitos sorrisos iluminam o cotidiano das pessoas nessa época. Um clima de paz se instala nos corações,mesmo com toda a onda de consumismo desenfreado, mesmo com o real sentido do Natal sendo colocado em segundo plano,mesmo assim ainda somos invadidos por sentimentos nobres, uns mais e outros menos... Todo esse clima de compras, e mais compras refletindo um comportamento condicionado pela mídia, no qual a troca de presentes toma um papel crucial nessa época. Mas e aonde ficam as reais intenções? Aonde ficam os valores morais? O perdão ainda tem lugar? A humildade ainda pode ser embrulhada para presente? A fraternidade ainda pode ser compartilhada,ou ela também vai ser dividida em dez vezes sem juros??? Desde criança somos condicionados a receber presentes e acreditar que Papai Noel seja o responsável por tudo isso... às vezes tenho pena de Papai Noel, tenho pena de todas as crianças que são levadas a contruiremn seus sonhos dentro de uma filosofia materialista, voltada para um condicionamento behavorista muito bem aceito pela sociedade ocidental americana, a real criadora dessa sacada psicológica... Quem me dera mudar os pensamentos de Watson, o criador do behavorismo... Mas fico feliz por ainda existirem pessoas que acreditam no real significado de toda essa época, e fico triste por algumas que se perderam na ilusão de achar que tudo não passa de uma farsa. Uma jovem paciente relatou-me toda sua angústia em relação ao Natal, ela simplesmente se sente deslocada nessa época, falou que tudo é muito triste, que fica contando as horas para que tudo acabe,e que a troca de presentes nada mais é do que uma obrigação para ela. Conversamos um pouco,e eu não conseguiria impor novos pensamentos à sua mente jão tão fortemente moldada. Tentei mostrar a ela que valores reais e concretos podem ser encontrados,e que o simples sorriso dela já seria uma grande mudança em dias considerados tão tristes... Pois é, às vezes a cadeira odontológica se transforma num divã, muitos pacientes falam ,falam e extravasam seus problemas... Acredito que todos precisam ser ouvidos, todos precisam de atenção.
Que o verdadeiro sentido do Natal, o nascimento de Jesus Cristo, o maior psicólogo que a Terra já recebeu, possa invadir o coração de todos vocês,e que reine a Paz, a Humildade e a Fraternidade!
Feliz Natal! Abraços Fraternos...

Problemas no " Cio"...


Depois de tanto ócio, mesclado com muita imaginação, muita criação retida e também muito trabalho, é sempre bom voltar a escrever aqui...

Espero não passar mais tanto tempo ausente.

De cada conversa informal, de cada assunto traçado na rotina de cada um,surgem histórias das mais diversas, assuntos dos mais ímpares,e assim vivemos, ouvindo, sofrendo junto, sorrindo junto, e às vezes sufocando com tanta informação, muitas das quais desnecessárias. Mas assim é a vida, assim caminhamos...

Muitos casos engraçados também acontecem fora do consultório, na rua, nos restaurantes, em festas,etc. Basta para isso alguém saber que você é médico,dentista,advogado, aí vão logo fazendo uma consulta,tirando uma dúvida. Sempre procuro ter paciência nesses casos, e às vezes é preciso ter muita,mas muita paciência mesmo...

Depois de descobrir que eu era dentista, a garçonete de um bar chegou falando que tinha um assunto,uma dúvida para tirar comigo, disse que era muito sério e que precisaria ser em particular. Assim fizemos, fomos para umn lugar reservado e passei a ouví-la, calmamente ela foi falando que não estava nada bem e quem sabe eu não poderia resolver o problema dela. Então pedi que falasse qual era o problema,ela então falou que estava com "problemas no cio" e que talvez eu pudesse resolver. Foi dizendo que os problemas já aconteciam à meses,e que como eu era dentista talvez pudesse resolver. Falei que dentistas tratam de problemas relacionados à boca, com dentes e que problemas sexuais são tratados em outros consultórios. Ela riu muito,muito e disse que o problema era no "dente do cio". Foi aí que me dei conta, a jovem estava se referindo ao terceiro molar , popularmente conhecido como "dente do ciso"...

Passados o susto, os risos,e logo após algumas conversas e esclarecimentos, a jovem foi orientada a tomar certas atitudes em relação ao problema,que não era sexual e apenas de uma informação suprimida, mal repassada.

Voltei à mesa, depois de ser indagado sobre o motivo da ausência, desconversei, ali não era o local para falar sobre,mas juro que todas as vezes que lembro surge um leve sorriso, uma lembrança dos problemas nada sexuais daquela garçonete....

Abraço a todos! E viva a volta!!!

Férias!!!


Desculpa a todos os meus amigos que sempre visitam este espaço, por algum tempo não publicarei novas crônicas, não que faltem histórias,pelo contrário, muitas ainda virão e continuam acontecendo... Precisei recarregar minhas energias, e férias são sempre bem vindas, longe do consultório, sem precisar acordar cedo, sem roteiros, somente praia e água fresca... e muitas baladas!!! Por isso novas crônicas somente em outubro!!!! abraço a todos

Especial


Entende-se saúde como um bem estar físico, social, mental, cultural, e não simplesmente o fator doença entendido como o simples fato de o corpo não funcionar perfeitamente. Se não tivermos educação, moradia, saneamento básico, lazer,e se não estivermos socialmente incluídos dentro de um contexto favorável,com certeza, não estaremos no caminho certo...
Muitos pacientes que chegam até o consultório público não entendem o real valor desses fatores no desenvolver de sua saúde corporal, mental, física. Acreditam que, por ser público, deve ser e continuar com falhas, com brechas que não permitam mudanças significativas. Para muitos, o público significa de graça, imperfeito,e assim deve continuar porque não temos nada a ver com isso,e bom mesmo vai ser o plano de saúde que pago, a escola que pago,e por aí vai. Quando, na verdade, o público não é tão de graça assim,e somos nós que pagamos, que promovemos sua funcionalidade através de impostos que depositamos nas contas do governo, seja ele federal,estadual ou municipal.
Existem grandes exemplos de instituições públicas sérias e comprometidas,e que nem sempre o que é privado irá significar retorno de bons resultados. Assim como o oposto também existe. E inúmeros casos poderiam ser citados...
Pela segunda vez atendo, no consultório público, uma paciente de 15 anos, vou cháma-la de paciente S. A jovem S sofre de paralisia cerebral, ela é extremamente educada, simpática, alegre, e sinto toda vez que ela chega ao consultório uma paz muito grande. Ao conversar com a responsável de S, ela relatou que já havia tentado colocá-la numa escola particular, mas todas as escolas da cidade haviam rejeitado S,e sempre alegaram que não tinham condições de educá-la,e afirmou que depois de muito tentar, não porque S se recusasse a frequentar a escola, pelo contrário, S adoraria ir diariamente à escola. Achei tudo um absurdo, primeiro porque é crime, está previsto na lei, tanto devido o preconceito quanto a recusa de receber S por se tratar de um paciente especial.
S nunca frequentou uma escola, tem 15 anos e nunca esteve ao lado de outras crianças numa sala de aula. A família dela resolveu que seria melhor não insistir, pois teme que ela possa sofrer preconceitos numa escola que não tem professores capacitados para recbê-la,e também porque já se recusaram mesmo antes de S pôr os pés na escola.
Lembrei de uma escola pública, nessa mesma cidade que trabalho. Uma escola simples,mas com professores e direção engajados socialmente com a comunidade. Lá não existem núcleos especiais,salas separadas para deficientes, pelo contrário, eles estudam juntos com os outros alunos, e nesta escola há varios alunos com Síndrome de Down, deficientes físicos,e com paralisia cerebral, como no caso da jovem S. Foi a primeira escola publica da cidade que trabalho na qual vi a presença de rampas para deficientes terem acesso à escola.
São exemplos como esse que ainda fazem eu acreditar que tudo pode dar certo, que ainda temos chances de mudar muitas coisas mesmo com poucos recursos,e que só teremos realmente saúde quando tivermos cidadãos mais educados, trabalhando, produzindo, moral e culturalmente. E que,.no futuro, casos como o da jovem S sejam apenas exceções.
Abraço a todos

Preconceitos


Nunca se falou tanto em atendimento humanizado como nos últimos anos. Acho isso extremamente importante, pois tratar o paciente pelo nome, vê-lo como um ser humano que tem sentimentos, anseios e dúvidas torna-se bem mais viável que tratá-lo por números, ou simplesmente pela doença que o acomete.

Mas na realidade não é o que vivenciamos, e alguns justificam a falta de atenção e respeito relacionando-a com as condições precárias de atendimento, ou a péssima remuneração que o sistema se propõe. Definitivamente, não concordo com esses caminhos...

É certo que temos péssimas condições de trabalho, somos muito mal remunerados, mas não justifica ter atitudes que levam ao preconceito e à falta de educação. Os usuários do sistema público não têm culpa, eles são vítimas do sistema...

A alguns meses atrás, durante uma confraternização com vários colegas médicos, enfermeiros e dentistas pude ouvir muitos relatos, e gosto desses momentos, são oportunidades de trocar idéias. Uma história que pretendia ser cômica,pelo menos na visão do colega que estava relatando, tornou-se motivo de discussões por parte de todos . Durante uma noite de plantão no hospital que trabalha, relatou um colega, surgiu um rapaz,na verdade não dava pra saber se era homem ou mulher, mas depois de conversar com ele percebeu-se que era um homem travestido de mulher,ou seja,um travesti que buscava atendimento no único hospital público da cidade. Meu colega continuou relatando,e pasmem, afirmou que pediu ao rapaz que se retirasse do hospital, fosse em casa e vestisse uma roupa de homem, só assim seria atendido. Meu colega esperava que todos rissem da história dele, pelo contrário, entramos numa discussão que durou vários minutos, e todos concordavam que ele estava errado. Ele não tinha que ter expulsado o paciente do hospital simplesmente por ele vestir-se fora do usual, ou talvez por ser homossexual. Não importa a roupa que o paciente vista, a cor de sua pele, a sua orientação sexual,se ele é rico ou pobre,se ele chegou até o hospital a pé ou dirigindo um astra último modelo. Não tem que existir preconceito de forma alguma! Absurdos como esse só servem para macular mais ainda o sistema de saúide já tão falho e cheio de imperfeições que possuímos.

No final da discussão, todos concordaram que o colega agiu de forma preconceituosa, e colocou em risco a vida de um ser humano.Ele foi o único a continuar achando que estava certo,e deve pensar dessa forma ainda hoje, uma grande pena! E se o paciente fosse esclarecido, soubesse de seus direitos ,poderia ter processado o caro colega.

"Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos, comemorar a água podre e todos os impostos,queimadas,mentiras e sequestros. Nosso castelo de cartas marcadas... toda hipocrisia e toda afetação,todo roubo e toda indiferença..." ( Perfeição, Renato Russo)

Abraço a todos

Alfadentizar


Educação e saúde são dois pilares fundamentais do desenvolvimento humano,sem o primeiro nos tornamos manipuláveis e sem o segundo nossos dias se tornam cada vez menores,e nossa existência passa a ser mais sofrível. Podemos viver em perfeita harmonia com os dois,mas na maioria das vezes não depende somente de nós, geralmente recebemos educação e geramos saúde a partir dessa situação. E quando nos é negada essa educação? E quando ela é falha?

Dentro do consultório odontológico uma situação me colocou diante de uma realidade que eu já reconhecia,apenas não aceitava ainda. Pois é, às vezes também nos deixamos levar pelas máscaras que o sistema nos impõe,e acabamos aceitando que está tudo muito lindo,tudo muito organizado. Ao atender um adolescente de 13 anos,cursando a terceira série primária,acabei descobrindo que ele não sabe assinar o próprio nome,e muito menos ler. Ao pedir que assinasse seu nome na ficha de produção diária de procedimentos,ele me disse que não sabia,e que nunca tinha assinado. Perguntei como ele tinha passado de ano,como conseguiu aprovação,e ele me respondeu que as professoras sempre o passavam,mas que nunca tinha se preocupado em mostrar a ele como assinar o nome nem muito menos ler um texto.

Conversei muito tempo com ele,vi sua capacidade de raciocinar,de formar frases e que sua timidez ia sendo perdida,e que cada vez mais me conscientizava que aquilo tudo era um tremendo absurdo.

Sempre visito as escolas do local aonde trabalho,pois coordeno um programa de saúde bucal,e justamente tive a oportunidade de ir até a escola na qual o paciente estuda. Se não fosse por necessidade teria ido mesmo pela minha consciência ,pois os questionamentos não paravam em minha cabeça.

Chegando à escola,procuro a direção,e ao conversar com os responsáveis busco respotas para toda a situação. E pasmem,a diretora me relatou,na minha cara,"não doutor,nem ligue pra ele não,ele não é normal não!!! já tentamos muito fazer ele escrever,mas ele não aprende nunca!!!". Falei pra ela que ao conversar com ele não vi nenhum traço de loucura,e perguntei como elas passavam ele de ano sem ao menos saber assinar o nome. E outra resposta absurda: "doutor,temos o projeto acelerar,então ninguém pode ficar reprovado,pois a escola perde pontos e o governo não quer ninguém reprovado". Pois é amigos,o nosso governo quer números,nosso presidente quer números,quer estatísticas que mostrem o fim do analfabetismo,e dessa forma "aceleram" o aprendizado. E "aceleram" também o desemprego,a pobreza, a fome, o crime organizado, as injustiças socias....

Saí da escola triste,e vi que não tinha mais jeito,a não ser que o pequeno adolescente mudasse de escola, e isso não dependeria de mim,infelizmente...

Ele vai continuar voltando ao consultório,e vou continuar estimulando seu aprendizado,mostrar que é uma obrigação da escola ensiná-lo a ler e escrever. Para não criar maiores transtornos resolvi ficar por aqui com essa história,pois poderia muito bem buscar alternativas na secretaria de educação,mas talvez só piorasse a situação e me revoltasse mais ainda,pois acabaria descobrindo que como esse devem existir mais e mais casos...

Abraço a todos

Refinamento


Passar muito tempo sem postar algo gera uma tremenda indecisão,pois acreditem amigos,muitas histórias acontecem todos os dias,muitos casos me surpreendem diariamente. E fica,de certa forma,díficil escolher o mais adequado,então utilizo o recurso da total adequação ao meu estado pessoal. Pois é,dependendo do que sinto e que quero expressar escolho a história mais próxima da realidade a ser dividida com todos. E vamos lá!

Numa única manhã, dois pacientes me surpreenderam,o primeiro deles um jovem,devia ter uns 25 anos e chegou ao consultório reclamando que não necessitava de nenhum procedimento,apenas queria que eu fizesse um "refinamento" nos dentes dele. Sinceramente,nunca tinha feito um refinamento em odontologia,até porque não existe esse procedimento. Indaguei o paciente sobre o que ele realmente queria,e foi ai que me surpreendi mais ainda. Ele relatou que necessitava de dentes mais brancos,entao queria que eu fizesse o tal do "refinamento". Na verdade, o que ele precisava era fazer um clareamento dental. Conversei um pouco com ele e tentei explicar sobre o real procedimento e que na verdade,numa verdade crua e excludente, um consultório público não realiza clareamento,e que ele deveria procurar um consultório particular,pois o SUS não cobre esse tipo de procedimento. Foi aí que ele virou-se,olhou com espanto e perguntou: "E entao doutor,aonde eu acho esse tal de Susi?" Gargalhadas a parte,tentei resumir em alguns minutos toda a nossa política pública e que ele poderia até exigir melhor atendimento e cuidado ,pois "esse tal de SUS "deve isso a ele,pois o que parece de graça,na verdade sai muito caro através dos impostos que ele,eu e você pagamos todos os dias. Fiquei mais aliviado,o paciente pareceu entender um pouco e saiu sabendo que pode exigir mais,mesmo não recebendo o que é certo do sistema.

Nessa mesma manhã de atendimento,um outro paciente,dessa vez um senhor de 63 anos insistiu para que eu cerrasse seus dentes! Isso mesmo! Cerrar, aparar! Ele insistia que os dentes teriam que ficar iguais aos da dentadura que ele utilizava. Tive vontade de rir,mas comecei a explicar que quem estava errado era a dentadura,essa sim precisava ser consertada, ou entao, providenciar uma nova prótese. Eu já estava perdendo a paciência porque ele não aceitava a hipótese de trocar a dentadura,e sim ,queria que os dentes fossem cerrados. Depois de muitos minutos de conversa,ele chegou à conclusão que realmente a dentadura estava em péssimo estado,mesmo tendo sido feita recentemente. Foi ai que perguntei como ele tinha conseguido a dentadaura,aonde e qual dentista. Mais surpreendente foi ele afirmar que escolheu a dentadura de dentro de uma caixa com várias outras, e aquela era a que mais parecia com os dentes dele. Triste mais verdade. A marginalização de um sistema excludente,que não prioriza a equidade e muito menos as necessidades individuais dos mais carente somente acabrá resultando em problemas cada vez mais graves. Volto a repeteir a mesma questão: o sistema que extrai de forma cruel os dentes de um cidadão não é ainda capaz de repor ,de forma a garantir sua estética e fisiologia. Ele saiu do consultótio e não pude lhe garantir uma resolução viável para seu problema,a não ser que ele deveria procurar uma solução adequada,e mais cara para ter de volta seus dentes. E talvez ele nem siga essa rota...

E a minha dentadura, cadê??!!


O reencontro sempre trará a possibilidade de nos depararmos com velhas atitudes, velhos conceitos,e muitas vezes,rever trajetórias... É esse o caminho que percorremos! E o mundo dá muitas voltas,muitas reviravoltas!
Ser incapaz de mudar certas atitudes,permanecer dentro do mesmo círculo vicioso parece ser o caminho mais fácil....
Quem frequenta sempre este blog deve lembrar daquela senhora da" presa mestra", aquela que tinha somente um dente na boca e que infelizmente necessitou extraí-lo. Pois é amigos, ela voltou!! Como voltou? Simples,mas triste! Durante a semana a encontrei dentro da Unidade de Saúde que trabalho,a intenção dela não era fazer uma consulta odontológica,mas ao me ver foi logo falando em voz alta:"E a minha dentadura,cadê?"... A mais pura verdade,ela necessita urgente de uma dentadura,pois somente os dentes artificiais irão recompor, em parte,cerca de 20% da sua mastigação, voz,estética,e só assim ela voltará a ter uma vida mais saudável.Mas como ela conseguirá? O Nosso sitema é muitas vezes injusto,e não disponibiliza um atendimento integral,como a recomposição da arcada dentária através de uma prótese,por exemplo. É claro amigos,que existem exceções,raras,mas existem,aonde haverá continuidade no atendimento,possibilitando mais conforto e satisfação ao paciente que procura o serviço público. Pois,geralmente ,quem procura esse tipo de atendimento não tem outra alternativa,mas muitas vezes ele é tão falho que não cumpre seu papel fielmente.
Não é de se estranhar que temos um modelo de sistema público muito bem estruturado,mas apenas na teoria,porque na prática não funciona tão bem assim... Aí surgem os famosos distúrbios sociais,como a marginalização,o preconceito,a fome,a miséria total e absoluta. E é o nosso dinheiro que está sendo mal empregado,são impostos que pagamos... E vamos continuar pagando por muito tempo,e as pessoas mais carentes ,infelizmente irão continuar marginalizadas. Sem dentes,sem comida,sem emprego,sem voz e nem vez! Até quando?
Poderia continuar citando inúmeros problemas,mas todos são visíveis,estão na nossa cara,estão na esquina da nossa casa,na porta do nosso trabalho...
Podemos começar mudando dentro de nós,na nossa casa,no nosso trabalho,na nossa rua,no nosso bairro. Mudanças pequenas,mas significativas.
Abraço a todos

Nudez e Lucidez


Histórias comuns acontecem todos os dias,pessoas comuns cruzam meu caminho todos os dias,escolher a melhor de todas torna-se tarefa difícil.... Aos meus amigos que visitam sempre o blog e cobraram retorno dos posts,peço desculpas pela ausência demorada.... e lá vem mais história...
O cansaço de um dia inteiro de trabalho,o estresse físico e emocional,uma rotina desgastante,um número exagerado de pacientes no decorrer de um dia pode causar sérios danos ao profissional,tais como distúrbios psicológicos que já estão latentes e de uma hora pra outra aparecem do "nada". Há alguns anos atrás um colega meu de profissão seguia uma rotina estressante e já começava a apresentar um comportamento diferente . Eu jamais cogitava a possibilidade de algo estar errado e que era perfeitamente normal certas atitudes. Trabalhávamos no mesmo município,sendo que ele atendia aos pacientes num consultório montado dentro de um hospital municipal. Numa certa manhã , a cidade parecia atingida por um meteoro... as pessoas corriam,gritavam,riam... Quando soube o que acontecera pensei que era fruto da imaginação de alguém que não tinha nada para fazer.Mas era tudo verdade... Meu colega chegou cedo no consultório ,a sala de espera estava lotada como sempre,pois além de seus pacientes haviam aqueles que procuravam o hospital para ser atendidos por médicos,enfermeiros... Ele simplesmente ficou completamente nú,abriu a porta e perguntou a todos quem seria o primeiro! Todos saíram correndo! Crianças,idosos,jovens! Fiquei imaginando a cena! Ri,ri muito e depois cai numa tristeza imensa... Até onde vai o meu limite? O que realmente é importante para mim? Quantidade é mais importante que qualidade? Até onde posso ser calmo,tranquilo e seguir uma jornada de trabalho estressante? Meu colega foi levado da cidade direto para tratamento,passei mais alguns meses trabalhando por lá. Perdi contato com ele,mas acredito que hoje está bem,tranquilo e segue uma vida normal. E quando é o paciente que surta? Pois é,dois anos depois desse episódio uma paciente minha ficou completamente nua em plena sala de espera! Ela queria porque queria entrar antes de todos os outros! Ela ameaçou,gritou e até que retirou toda a roupa! Só ouvi gritos,correria e risos! Colocaram um lençol sobre ela e a levaram para casa!
Precisamos conhecer nossos limites! Até onde podemos ir?Qual o limite entre lucidez e loucura? São os loucos os seres mais lúcidos? Alcançaremos nossos objetivos sem precisar mudar de personalidade, sem precisar ficar nús? Abraço a todos