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"...Agora vou assistir ao Ben 10"


Quando aquele garotinho de apenas cinco anos entrou no consultório odontológico, logo pensei que possivelmente teria problemas em realizar qualquer procedimento na boca dele. Mas enganei-me, pois o pequeno paciente se mostrou dono de uma paciência tremenda para me ouvir,e sem dizer uma só palavra foi logo abrindo a boca como se quisesse que tudo aquilo acabasse logo. Falei que não precisava abrir a boca naquele momento,depois sim... Foi aí que ele começou a falar... Perguntou se eu tinha alguma "agulha" ali, e se usaria nele, e rapidamente respondi que não usaria nenhuma agulha nele. Incrível a capacidade de argumentação dele ao falar que não queria sentar naquela cadeira, sua mãe que prometeu um presente pra ele se o comportamento dele fosse bom. Bem, até o momento, disse eu, seu comportamento está muito bom mesmo. Ele respondeu rapidamente: "Então acaba logo com isso..." . Fiquei sem ter o que dizer, e para cada pergunta minha ele tinha um argumento na ponta da língua. Suas palavras eram soltas pela metade, e ele falou de muita coisa... dos desenhos animados preferidos dele, do cachorro que tinha sido atropelado e morreu. O nome do cachorro era Toy, ele ganhou de presente da sua mãe, mas Toy cruzou com um carro em alta velocidade e foi embora dessa vida... Ele disse que um novo cachorro ainda vai substituir Toy.
O exame clínico foi concluído e agendado novo retorno, e ele saiu com cara de felicidade como se não acreditasse que era somente aquilo, que até esperava uma agulha enorme conforme falaram seus coleguinhas na escola... E saiu falando: " Acabou neh? agora vou assistir o Ben 10...". Confesso que não conhecia o personagem de desenho animado, uma criança com poderes alienígenas lutando para salvar o planeta de forças do mal...
Cinco anos podem representar muita coisa, ou nada, diante do mundo que se encontra aos nossos pés, de tanta informação boa e má, de tudo que pode nos guiar para tantos caminhos...
Aquele garotinho não chorou, não gritou, não reclamou, ele só contou sua história, um pedaço da sua vida deixado na cadeira odontológica...

amilton

O Poder do Beijo










Dos 12 pares de nervos cranianos que temos, cinco são estimulados quando beijamos, enviando mensagens dos lábios, da língua e do nariz ao cérebro, que processa todos os movimentos que acontecem. Trinta e quatro músculos funcionam ao mesmo tempo e há liberação de oxitocina, também conhecida como o" hormônio da união".
Alguns primatas alimentaram os filhos boca a boca, primeiro mastigando a comida e depois passando-a para o filhote, e essa pode ter sido a origem do beijo. O beijo sem transferência de comida é uma expressão quase universal de amor e afeição entre os seres humanos. Nossos "primos" chimpanzés também se beijam.
Somos a única espécie com lábios que se dobram para fora e com uma cor distinta que os diferencia do restante da pele.
Fomos projetados para beijar. Pelo menos 90% da população do mundo pertence a uma cultura na qual se trocam beijos. Sigmund Freud achava que a origem do beijo está no modo como os bebês se alimentam. Freud considerava o beijo como a busca do seio da mãe nos lábios dos outros.
Uma pesquisa realizada pela versão espanhola do Match.com, famoso site de encontros pela internet, revela que uma em cada quatro pessoas abandona o parceiro porque não ficou satisfeita com seu beijo. Dentro do grupo, 42% afirmaram que foi no beijo que perceberam que a química não dava certo. Outros 15% mencionaram que o parceiro parecia "lambê-los", um tipo de beijo aparentemente não muito popular.
Para reduzir o risco do uso inadequado dos lábios, há muitos livros que prometem transformar os leitores em beijoqueiros especializados. Em A História Íntima do Beijo (Matrix Editora), a jornalista Julie Enfield desvenda os mistérios dessa arte e investiga as origens e até a alquimia do beijo. Julie afirma que "tudo começa com um beijo. Nós nascemos a partir do primeiro beijo dos nossos pais, e a lembrança mais antiga que todo mundo guarda é dos beijos carinhosos da própria mãe.
O site www.valebeijo.com.br traz desde um "cardádio de beijos", passando por um "Regime de Beijos", com dicas para emagrecer beijando, até um fórum no qual os interessados podem dividir suas experiências e expectativas com relação aos beijos. Tem ainda o cine beijo, um link com fotos dos beijos que entraram na história do cinema mundial. Pelo site você também pode enviar um "e-beijo" para quem você gosta: basta digitar o e-mail do destinatário e escolher o tipo de beijo que quer mandar. Já o www.bestkisses.com é um blog que reune fotos de beijos mandadas pelos usuários do blog. Vale a pena conferir.



Fonte: Seleções Reader's Digest Junho 2009.

O Pé do Meu Dente II


A imaginação de Marcelo continua a mesma de sempre. Sonhar acordado faz dele um personagem de um mundo cheio de fantasias, cheio de possibilidades.
Os amigos de Marcelo nunca imaginaram um mundo aonde de dentro de suas bocas pudessem brotar árvores, que dão frutos, que são verdes, outras vermelhas, ás vezes amarelas. O mundo de Marcelo não pára, a imaginação dele vai além da solidão que ele carrega diariamente. Ele nunca disse que nos seus sonhos os dentes falam, e que fadas e gnomos o carregam para mundos distantes.
Na imaginação de Marcelo a boca está cheia de galhos, que precisam ser cuidados. As árvores que dão frutos, que precisam ser cuidados... O Pé do Dente de Marcelo cresce. Ele já imaginou uma árvore tão grande saindo de sua boca que ficou imóvel de tão pesada que era a árvore. Daí ele se questionar por que os dentes não são árvores de verdade, por que só no mundo dele os dentes se parecem com árvores. Muitas dessas árvores são destruídas diariamente, seus frutos são dizimados, exalam odores fétidos.
Certa noite Marcelo acordou assustado, nunca tinha sonhado com uma árvore tão grande saindo de sua boca. Essa era a maior de todas que ele já imaginara acordado, e ela era tão grande,mas tão grande que sua boca parecia um pequeno botão. Ele acordou e correu pra frente do espelho, queria ver,queria sentir seus dentes, sua língua, suas bochechas.
Marcelo já plantou várias árvores na rua onde mora, ele acredita que o mundo precisa realmente de árvores, que estão destruindo muitas por aí... Mas poucas pessoas são como Marcelo, nenhum de seus amigos da escola acreditariam nele, e por medo de ser tachado de louco,Marcelo se cala, se tranca num mundo imaginário. E seus melhores momentos são com ele mesmo, no silêncio da noite trancado no seu quarto.
Desde o dia que ouviu a expressão "o pé do meu dente",pois sua avó materna sempre usava essas palavras ao se referir às dores que seus dentes causavam, Marcelo passou a imaginar que da boca sairiam árvores,galhos, frutos... e a realidade misturou-se com a fantasia à partir do momento que ele se interessou por árvores e em plantá-las. O mundo verde de Marcelo é bem melhor do que o mundo cinza de muitos garotos de oito anos de idade que vagam por ai, sem lar, sem escola,sem família... Mesmo com seus dilemas, Marcelo é feliz dentro de seu mundo de fantasias e sonhos.
E os sonhos de Marcelo continuam....


amilton

À Boca Fechada



Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago