A Xerox do Dente



      Meses já se passaram depois que um jovem chegou ao           consultório odontológico querendo tirar ,literalmente,uma “xerox da cara dele”,como ele próprio me relatou no post intitulado A XEROX. 
Então, hoje, pela segunda vez, um outro paciente de 26 anos também usou xerox para se referir à radiografia. Diferente do primeiro, este já trazia a xerox que foi “batida”, segundo ele, por outro dentista.
       “Olha só doutor, o senhor tem que dá uma olhadinha na xerox que trouxe, que foi batida por outro doutor,antes de mexer no meu dente...”. “Olhar a xerox amigo?!? Que xerox?”. Foi aí que o outro paciente caiu na minha lembrança, e logo falei: “Radiografia, você quer dizer ?”, e ele respondeu: “Isso mesmo doutor!!! Radiocafria!!!”.
       Ele retirou a radiocafria,ops,radiografia do bolso e me entregou. E começou a falar que não entendia porque dentista tirava tanta xerox de dente,pra que serviria tanto aquilo... E conversamos sobre coisas que não podem ser vistas a olho nú,e que se escondem e que precisam ser desvendadas.Lembrei do blog Te Vejo por Dentro da  Kellen,e da importância de tanta xerox de dente no mundo. Sem elas tudo ficaria  muito mais complicado.
       E o paciente esboçou um sorriso e soltou : “É bom bater essas radiocafrias porque não doeu nadinha... gostei muito,se precisar pode mandar eu ir lá de novo doutor!!!”.
       Bem,não foi necessário,mas ele até entendeu que por debaixo de tudo que pode ser visto ainda existe muito mais a ser desvendado...

Três Ganchos e Orações


      Dois pacientes me chamaram a atenção neste início de semana. De um lado um senhor de 53 anos e toda sua capacidade de demonstrar coragem e revolta contra a dor de dente que o atormentou durante dias. Do outro extremo uma senhora de 83 anos e toda uma vida devotada à arte de curar através da oração.
               Aquele senhor apareceu depois, segundo ele, de ter "arrancado" o dente com as unhas. Isso mesmo! No balbuciar de inúmeras palavras ele não dava espaço para mais nenhum  complemento. O dente era o troféu, e a morte do dente o fim da dor,segundo ele. E no final completou: "O danado saiu mesmo foi com minha unha, e ele tinha três ganchos doutor...", referindo-se ao primeiro molar superior que segundo ele teria sido extraído usando as própias unhas.E indagado sobre a dor e o sangue, ele desconversou... O herói jurou que tudo aconteceu mesmo.
     A senhora de 83 anos trás toda uma história de vida marcada pela simplicidade de quem exerce a função de rezadeira na comunidade. Todos a conhecem,e muitos já receberam suas orações. Calma, e com uma voz suave ele falou: "Já curei tudo,já rezei pra tudo,mas não conheço nenhuma reza que cure dor de dente... Queria ter na mente...".
            As rezadeiras ou benzedeiras como são conhecidas caracterizam um grupo típico do nordeste brasileiro,mais especificamente do sertão,e aonde durante séculos os avanços da medicina tardaram a chegar. E nas mãos dessas mulheres a cura é parcial ou totalmente encontrada através da fé. Folhas, ramos e galhos são os instrumentos que levam à cura pela natureza. Uma boa dica para quem ficou afim de saber mais sobre as rezadeiras é o texto Rezadeiras- a cura na natureza do blog Nosso Semiárido.
    De tantas histórias e vidas podemos tirar proveito, e do melhor a compartilhar através de quem tem tanto para ensinar na escola da vida.

    

    

Sem Noção


   Muitas situações inusitadas podem acontecer fora do consultório odontológico quando repentinamente um desconhecido qualquer descobre que você é dentista. Muitas histórias podem ser descritas, você possivelmente já deve ter protagonizado uma em algum momento.
     No meu caso, lembro sempre das mais marcantes, como o caso da garçonete que ao descobrir que eu era dentista me perseguiu durante horas querendo mostrar a "presa" dela em plena noite no meio de drinks e muita música. Assustado, impaciente e a ponto de explodir, tudo que eu queria era sair dali, voaria se me dessem asas...
    A jovem ouviu a conversa que eu levava com uma amiga, e ao saber que estava diante de um dentista nao titubeou,foi logo falando:"O doutor é dentista é?!", e recebeu um sim quase cochichado e saiu levando o pedido da mesa. Mas ela voltou várias vezes, e toda vez soltava uma pérola como essa: "Meu dente dói a dias... Aonde o doutor atende? Quanto custa uma 'bituração'?...". Tentei desconversar,pedir outra bebida,mas já cogitava sair dali urgentemente. Foi aí que ela sumiu por um bom tempo, e pasmem, quando a avistei, ela dirigia-se para minha mesa acompanhada de um adolescente. Fingi que não vi,mas nada adiantou, ela praticamente pulou em cima de mim,pegou o jovem,abriu a boca dele e gritou: "Olha, esse é o Carlinhos, ele precisa usar aparelho?".E não satisfeita, abriu a boca dela e colocou o dedo em cima do canino e falou: "E a minha presa, será que dá pra 'biturar'?!". Sem noção, completamente sem noção um ser humano desse. E saí de lá correndo, mas como já disse voaria se tivesse a oportunidade...
    E pra encerrar, esse último aconteceu no domingo durante um show. No meio do show um casal me chama e grita(tinha que gritar,eu não escutaria com tanto barulho): "VOCÊ É O DOUTOR AMILTON ?, e respondi gritando: "SIM, SOU O AMILTON?". Inesperadamente o rapaz grita: "O DOUTOR PODE CORTAR A ORELHA DO MEU CACHORRO?". Fiquei  sem saber o que falar, e pensava ou ele tava zoando da minha cara ou ele além de sem nocão era louco,completamente louco. E respondi:"BEM AMIGO, O SHOW COMEÇOU AGORINHA, SÓ BEBI UMA DOSE DE VODKA ATÉ AGORA,DEPOIS DA TERCEIRA DOSE QUEM SABE PODEREI ARRANCAR ORELHA DE CACHORRO,MAS ACHO QUE NÃO FAREI,ADORO ANIMAIS...". O casal ficou sem entender nada, e eu muito menos,mas saí deixando eles boquiabertos... Sem nocão esse povo!
   Mas só agora descobri que existe por essas bandas um veterinário chamado Amilton, daí o cara querer que durante o show que eu cortasse a orelha do cachorro dele. Inviável o processo...
   Também cheguei à conclusão que veterinários,psicológos,advogados,médicos,dentistas,somos todos alvo das possíveis "consultas" fora de lugar, de situação,e completamente sem noção mesmo...