O Pé do Meu Dente III ou O Bicho da Cárie


Quando Marcelo soube que iria ao dentista na manhã seguinte ,seu coração disparou. Mas ele não sabia explicar se era de medo, de curiosidade, ou de "algo" que pudesse fugir das suas expectativas de um menino de apenas 8 anos de idade.
Da última visita restou apenas um dente de leite guardado debaixo do travesseiro à espera,incansável, pela "suposta" Fada do Dente, que a mãe de Marcelo jura que não é ela... Sim, o dente de leite foi miraculosamente substituído por uma nota de dez reais, e Marcelo sabe que fadas podem até existir,mas que não andam distribuindo "grana" assim não, debaixo de travesseiros.
Para Marcelo, os sonhos são a melhor forma de fugir da pressão e rotina de acordar,ter que ir pra escola, estudar, e,pior, ter que acordar mais cedo porque sua mãe o levará ao dentista.
Nos sonhos de Marcelo os dentes têm vida, tomam formas,aparecem e vivem por conta própria. E foi justamente, na noite anterior da ida ao dentista ,que Marcelo acordou rodeado de doces. Eram muitos,muitos doces, e ele não acreditava no que via, só pensava em devorar tudo aquilo bem depressa, pois vai que não era real e "cabum",ele acorda. No meio de tudo aquilo apareceram vários dentes que Marcelo passou a chamar de "Soldados Molares", e estes tentaram em vão arrancar Marcelo dali.Mas o susto maior veio depois,porque mais doces começaram a cair na cabeça de Marcelo, e por fim ,um ser fantasmagórico tomou conta da cena, era o "Bicho da Cárie" que tentava convencer o garoto a comer mais e mais doces. Mas os "Soldados Molares" trouxeram reforços, e como num passe de mágica apareceram de uma só vez "Dona Fadinha Escovinha" e o "Super-Flúor", dois super-heróis que Marcelo jura,ainda hoje, que existem de verdade. E o Bicho da Cárie foi destruído por Dona Fadinha Escovinha e pelo Super-Flúor, e com a ajuda dos Soldados Molares Marcelo caiu na real, e viu que comer doces demais pode causar cáries, e que escovar os dentes é o melhor caminho...
E Marcelo acordou mais uma vez achando que tudo era real, e que sonho mesmo era ir ao dentista com sua mãe.

amilton

A volta de Doug Funny


Tudo parecia tranquilo demais no consultório odontológico, tranquilo até o momento que aquele garotinho da semana passada, que dizia ser o personagem Doug funny, retornou para atendimento. "Olha não vim só não ,viu?", entrou falando alto, e completou: "Trouxe ajuda!". A ajuda que ele se referia , vim a descobrir minutos depois, se tratava do irmãozinho dele de apenas 2 anos, que estava mais para o personagem Dennis- Pimentinha.
O Doug sentou na cadeira odontológica, o pai do lado,e a mãe tentava segurar Dennis,mas foi inevitável. Ele começou a correr dentro do consultório, derrubou cadeiras, puxou bandejas, derrubou fotopolimerizador,e enquanto isso , Doug ria desesperadamente, e olhava pra minha cara com ar de vingança,e eu sem saber o que fazer. A auxiliar largou o sugador e saiu tentando segurar Dennis-o Pimentinha, que convenhamos ,estava mais para formiga atômica de tanto que correu dentro do consultório. Depois de devidamente imobilizado pela mãe, Dennis é retirado aos gritos, e Doug começa a chorar...
Minha sexta tinha que terminar assim?!?
Depois de muito tentar, Doug Funny deixou que realizasse um selante na boca dele,mas isso depois de mil promessas de brinquedos e mais brinquedos por parte do pai.
E a família Funny saiu do consultório...

Já estou pensando quantas conspirações acontecem para que muitas loucuras surjam numa sexta,e tudo que eu queria era ir pra casa...



amilton


Que diabo é isso doutor?!?


Muitos pacientes hipocondríacos e "pitiátricos" visitam a Unidade de Saúde da Família à qual trabalho. Toda semana os mesmos rostos se repetem na ânsia de recebrem os mesmos medicamentos,e sempre,quase sempre, são as mesmas reclamações,os mesmos problemas que já se tornaram crônicos na cabeça deles. Muitos já chegaram até o consultório odontológico simplesmente porque estavam querendo aquele "remedinho". E depois de incansáveis minutos tentando esclarecer que remédio somente prescrito na devida necessidade,lá estão eles na outra semana.
Durante esses dias,uma senhora, frequentadora assídua dos corredores da unidade de saúde, levou a filha adolescente para o dentista. Nada foi encontrado ,nenhuma cárie,nada,mas a mãe da paciente relutava e afirmava que algo estava errado com a boca da filha dela. Não podia ser, a filha dela tinha que ter a doença cárie. Fiquei ouvindo ela falar: "Mas doutor, ela tem sim a doença na boca", e olhava pra adolescente e retrucava-"Num é menina, diz ai que tu sente dor na garganta..."- e a adolescente,tadinha, coagida a afirmar que sentia dores na garganta. Daí falei que então ela seria encaminhada para o médico que estava na sala o lado,e então ela disse: "No médico? Não,ele já disse que ela num tem nada,por isso estou com ela aqui porque o senhor vai ver que ela tem problema na boca sim...". Depois de muito conversar com ela, nada adiantava para apagar,deletar da cabeça dela que a filha não tinha nenhum problema físico. Cheguei a pensar,mas não falei ,que quem percisa de tratamento é ela, a mãe e não a adolescente coagida pelos caprichos de uma mãe atormentada pela hiponcria e que tenta repassar os problemas que estão na cabeça dela, a mãe,para a filha. Ela saiu insatisfeita...
No outro dia lá estava ela novamente, com a filha mais nova, reclamando que a garota estava com um caroço na boca e devia ser câncer. Na idade dela,8 anos,bem pouco provável que seja câncer de boca,falei. Ao proceder ao exame clínico encontrei no lábio inferior da garota um pequeno mucocele,provavelmente ocasionado por trauma físico local. Expliquei para a senhora o que significava aquele "carocinho" que já estava a dois meses lá,segundo relato da paciente. Foi feito pequeno procedimento de marsupialização da lesão. No final,nas recomendações, falei à senhora de todos os cuidados pós-operatórios que ela deveria ter com a filha, e atentei para alimentação que deveria ser pastosa naquele dia. Então ela saltou falando: "Pastosa, que diabo é isso doutor? Aonde eu acho esse remédio? Prescreve aí!!". Confesso que fiz esforço grande para não rir na cara dela, e xpliquei que pastosa é o tipo de alimentação,de comida que deveria ser mais líquida e não sólida,dura etc. Ela parece que não gostou muito não,enxerguei no olhar dela uma certa tristeza,talvez porque ela esperasse que pastosa fosse um remédio que ela levaria para casa. E ela saiu levando a filha, faz dois dias e eu ainda não a vi pelos corredores da unidade de saúde.
Mas ela voltará, com certeza voltará...


amilton


Doug Funny no Dentista


Quando aquele garotinho de quatro anos de idade sentou na cadeira odontológica, suas primeiras palavras foram: " Sou o Doug Funny!". Bem,pensei,tudo bem, e lembrei já ter assistido a alguns episódios dessa série de desenhos animados que fizeram sucesso no começo da década de 90,e que agora,segundo o mais novo fã,os desenhos de Doug o inspiraram.
O pai do pequeno paciente disse que o filho havia assistido a um desenho do Doug no qual aparecia um dentista,e aí o pequeno perguntou: "Você é o cara do dente do Doug???" Respondi que não, que não era o cara do dente do Doug, e já esperava prantos de choro do garotinho por talvez ter destruído os sonhos dele. Mas daí ele respondeu: "Ainda bem...". Também na hora não entendi o "ainda bem" dele,mas imaginei...
Agora pesquisando, descubro um episódio no qual o persongem Doug sofre de dores de dente, O Desatre Dental , e passa a noite tendo pesadelos imaginando sua ida ao dentista. Ainda bem que não afirmei ser "o cara do dente do Doug" quando o garotinho perguntou.
Durante todo o exame ele insistiu que era o Doug Funny, e eu já estava acreditando ser possível tal comparação,se não fosse pela idade. Doug não tem quatro anos, é bem mais velho,tem 11 anos e meio e adora escrever num diário , é apaixonado por Paty Maionese, tem um cachorro chamado Costelinha,uma irmã descolada, a Judi, que faz teatro, e seu melhor amigo é o Skitter. Doug "viaja" na imaginação, talvez por isso o pequeno paciente queria tanto ser o personagem.
Pelo menos, o garotinho não disse ser um daqueles monstros japoneses que infestam as telas das tvs diariamente em lutas descomunais. Menos mal...

amilton

Notícias de Maria Audenete


Sobre a história de Maria Audenete, publicada no post intitulado O Curioso Caso de Maria Audenete, ficou a dúvida inquietante de como se desenrolará os dias da jovem de 28 anos que vive no corpo de um bebê de oito meses, que ainda tem dente de leite, que não anda, que não fala, e depois de aparecer na TV local e nacional,e de receber promessas de políticos. Como ela está hoje?
Reproduzo reportagem publicada no Jornal O Povo publicada nesta segunda-feira:
É como um segundo nascimento. Aos poucos, Maria Audenete, 28 anos em uma vida de oito meses, vem à tona. "Ela tinha a cara inchada, não tem mais. E tava muito descorada. Agora, a gente vê os lábios dela bem róseo. O bucho era fofo, tanto fazia ter comida como não. Já obrou sem precisar tomar remédio, graças a Deus", vigia,dia e noite, Francisca dos Santos (dona Dôra). Foram 20 dias de internação,no Hospital Universitário Walter Cantídio. Audenete iniciou o tratamento-um comprimido,em jejum,para sempre-que lhe possibilitará recuperar o mínimo dos anos perdidos.
Ela deve "crescer coisinha pouca", espera dona Dôra, além de andar e falar. Difícil é compreender o mundo depois da porteira. O desenvolvimento mental de Audenete, pelo retardo no diagnóstico e no tratamento do hipotireoidismo congênito, deve se limitar a uma infãncia. Foi a primeira vez," que ela teve esses exames.Pra não dizer que ela nunca tinha ido a médico,levei,uma vez,ao hospital de Caucaia. Uma doutora só fez olhar,examinou,botou ela na mesa,mediu e disse: 'Mãezinha,não se pode fazer nada. Só com Deus'.Aí, a gente voltou,achando que amenina nao tinha nem jeito mais". Isso foi quando "a mãe (de dona Dôra) ainda era viva... a mãe já fez oito anos de falecida".
A morte do pobre começa pela ignorãncia.Pelo desaparecimento do mundo.Passou o agente de saúde,passaram-se as eleições e só dona Raimundinha, que assa churrasquinho no Tbapuá,percebeu Audenete. bateu fotografia e mostrou na televisão. Trouxe repórter até de São Paulo. E foi tanto exame, que dona Dõra arruma um jeito para resumir: "Sei bem do raio-x...Exame da cabeça,das mãos,dos pés,costela,barriga,ultrassom...Exame de sangue,urina,uma tal de coleta... Fizeram um exame mnuma máquina pra ver o que ela tinha na garganta. Tinha dois 'carocim',do lado e d'outro,parece um caroço daquelas fava de boi".
Ainda não é fácil chegar até Muquém,localidade encravada no mato,onde a família de Raimundo Nonato Ferreira do Nascimento (seu Mundico) enraizou-se. A estrada se desmancha sob os pés ( o carro mesmo desistiu). Esse é o caminho mais curto. Da primeira vez foi pior,embrenhando-se pelo "língua de cobra"-como o povo apelidou o arrodeio. E,às cegas,valendo-se da curiosidade alheia;todo passante conhecia "a-menina-da-televisão","a mulher-bebê".
Agora, dona Raimundinha, que deixa o preparo do churrasquinho para servir de assessora da imprensa,levando repórter a qualquer hora, faz questão de ir, ajudar na travessia. A Prefeitura de Caucaia-município na Região metropolitana de Fortaleza, do qual Muquém é um "primo pobre"-promoteu ajeitar a estrada, e a chuva não deixa. Passou só o trator. Serviço que vai por água abaixo. Mas,para dona Dôra,que ainda espera por uma ma´quina de costura para fazer seus remendos, as coisas estão melhores.
É que a filha que ela escolheu criar,aos poucos,renasce. NO Hospital Walter Cantídio, Audenete ganhou brincos (foi quando a jovem furou a sorelhas),uma bota(ela calça número 20) e um maiô. "Já tirou foi foto de maiô e bota!",ri-se dona Dôra. Está menos inchada,"e é porque comeu uma 'baciada' de sopa!". Descobre o redor."Ela não tinha ânimo pra nada.Hoje, a gente pega debaixo do braço dela,ela quer correr!". Já sobe e desce do sofá. "Ela não fazia isso". Dia desses, chegou até a cozinha.
Aos poucos, Maria Audenete vem à tona. "Da vista do que era, ela tá excelente. Porque eu não via os olhos dela,agora ,vejo". Aos poucos, vai saindo do silêncio. "Eu ensino:'Danete, a mamãe,o papai'... Ontem, cheguei da rua,ela tava chorando. Eu ouvi quase direito ela dizer 'mã-mã',pedindo pra mim tirar ela do berço", vbigia dona Dôra.

Audenete ficou internada no Hospital Universitário Walter Cantídio ( da Universidade Federal do Ceará) entre 23 de Junho e 12 de Julho deste ano. O período de internação "serviu para a gente fazer exames e iniciar o tratamento",sintetiza o endocrinologista Miguel Hissa. Foi confiramdo o hipotireoidismo congênito.
A doença é hereditária e causada por anormalidade na foramção da tireóide. A falta de enzima impossiblita que a glândula produza quantidades adequadas do hormônio tireoidiano (T4). Isso compromete uma série de processos metabólicos, como o cresciemento e o desenvolvimento mental.
Dificuldade respiratória, choro rouco,prisão de ventre,sonolência excessiva,hpérnia umbilical e pele seca são alguns dos sintomas. O Teste do Pezinho,realizado no recém-nascido e gratuito,é fundamental para o diagnóstico precoce. A cada quatro mil nascimentos,em me´dia, ocorre um caso de hipotireoidismo congênito.
O tratamento é por via oral, sob orientação médica. Quanto mais cedo for iniciado,maiores são a schances de reversão das sequelas. O remédio prescrito para Audenete foi o Levoid,ou Puran T4, com o princípio ativo levatiroxina 50mg. Acaixa (30 comprimidos) custa entre R$ 9 e R$ 12. Miguel Hissa fornece amostras grátis para Audenete.

Além da certidão de nascimento, a guia do Hospital Universitário Walter Cantídio, emitida no dia da alta médica (12 de Julho), diz um pouco mais de Maria Audenete Ferreira do Nasciemento: ela pesa 11 quilos, tem 76 centímentros de altura, "senta,anda com apoio,usa mão direita para comer com colher,boa interação social".