A História de Ricardo
Quando encontrei Ricardo pela primeira vez ele parecia um garoto de cinco anos muito tímido,mas bastaram algumas palavras para a timidez dar lugar a largos sorrisos no rosto e muitas,muitas histórias contadas por Ricardo...
Cursando a pré-escola, mas com oito e não com cinco anos como aparenta, Ricardo é o centro das atenções aonde passa. A timidez logo dá lugar a uma metralhadora ambulante que fala,fala e fala. E as palavras saem,muitas vezes,sem nexo, mas vão ganhando sentido à medida que entramos no mundo particular dele,e damos vazão às suas histórias que correm soltas,livres.
A sua experiência com dentista era zero,ele nunca teve acesso ao consultório odontológico,e descobrimos ao lhe dar uma escova de dente que aquele não era um hábito na sua vida. Não tinha noção de como segurar a escova, de como usá-la. Fomos perseverantes com Ricardo, seguramnos diversas vezes suas mãos e repetimos incontáveis vezes a técnica de escovação. No final, ele já estava fazendo tudo sozinho. E sentiu-se orgulhosos por ter aprendido tudo. Era só olhar o sorriso que estampava seu rosto.
Ricardo não nos deixou um só minuto durante os dias que estivemos na escola que ele estuda. Alguns coleguinhas que se recusavam a realizar as atividades educativas em Saúde Bucal eram encorajados por Ricardo a perderem seus medos e seguí-lo,e ele preocupava-se com seus amiguinhos. Exemplo de amizade e carinho por quem não recebe tanto diariamente. Ricardo é filho de pais separados,mora com a mãe eo padrasto numa casa simples,e frequenta a escola a alguns quilômetros de casa.
Vimos ele repetir por duas,até três vezes a merenda que era servida,talvez a única refeição do dia.
De algumas de suas histórias ficou a lembrança de que ele adoraria ganhar um celular de presente, e o passatempo predileto de Ricardo era fazer ligações imaginárias para um número que só existia na cabeça dele. E ele conversava,conversava e ia levando um diálogo todo improvisado através de seu celular imaginário. Em nosso último dia naquela escola demos de presente um celular de brinquedo para Ricardo. Agora fico relembrando a primeira expressão de seu rostinho,atônito,como se não acreditasse no que estava nas suas mãos tão pequenas... Pegou o celular com muita força,talvez querendo saber se era real ou não,e de ímpeto começou a fazer ligações imaginárias,agora através de um aparelho mais físico,mais real... Ganhamos aquele dia!
Diversas vezes ele dramatizava andar numa moto,acelerava e saia correndo... os professores e alunos adoravam esssas peripecias de Ricardo,e riam,e ele também ria como se não entendesse nada.
Talvez Ricardo passe por inúmeras dificuldades diariamente,mas o que mais me chamou a atenção foi sua felicidade diária, sua capacidade de ser feliz fazendo os outros rirem de suas brincadeioras inocentes.
Que muitos Ricardos possam existir,ainda,dentro de cada um de nós...
amilton
PS.: Os nomes são fictícios,mas a história é real.
Mais um belo post, amigo.
Que exemplo! Apesar de tudo que este menino deve passar, não deixa de brincar, de ser criança de ser feliz!!!
Precisamos muitas vezes não deixar esta criança que existe dentre de nós se apagar. E quem sabe tornar nossos dias mais felizes.
Bjssssssss