"Não doutor, não sou doida não..."



Depois de dias sem postar por falta de conexão,mas não por falta de casos, causas, esses são muitos,sempre,diariamente... Cada conversa, cada ato, cada mudança, cada palavra podem trazer um enredo novo, uma reflexão, uma pausa para alimentar a mente às vezes tão cheia de entraves. Muitos pacientes me fazem parar e pensar sobre nossos medos, nossas máscaras, nosso mundo vivido e aquele que eu gostaria de habitar. Aquele que sou personagem único, o guia central da minha vida. Alguns pacientes sempre retornam ao consultório com as mesmas queixas sempre. Depois de um ano, a vida continua a mesma, os problemas são sempre os mesmos, e nada de concreto foi feito para mudar. Uma jovem paciente, casada, cheia de possibilidades,mas com muitos bloqueios,sempre vai ao consultório,mesmo não tendo nenhum procedimento para ser realizado. Às vezes a cadeira odontológica se transforma na única alternativa de falar, de ser ouvida, um verdadeiro divã odontológico.Por mais que eu diga sempre que mudar é preciso, são conselhos milenares,mas situações estacionadas a anos não permitem. A jovem paciente sempre atormentada por fantasmas da solidão, da incompreensão familiar, da falta de atenção de todos ao seu redor,mesmo estando rodeada de pessoas,mas sente-se sozinha,abandonada. Aconselhada a procurar ajuda psicológica ela reluta em aceitar tal fato, simplesmente “não doutor, não sou doida não” ela sempre fala. Então resta-me ouvi-la pacientemente,sempre com a mesma história, com os mesmos lamentos. Já emprestei livros de auto-ajuda, já indiquei atendimento com psicólogo,mas não, ela simplesmente não se ajuda... Será preciso sofrer tanto para cair na real? Talvez sim... A última dela no consultório é que está completamente viciada em ansiolíticos, “não vivo mais sem eles”, afirmou. Longe da ilusão de que “ o paraíso é um comprimido”,mas um mundo falseado, momentâneo.

Será preciso muita força de vontade , e reconhecer-se doente,carente de ajuda especializada,enquanto isso não ocorrer as mudanças não serão concretas. E a vida ficará presa a comprimidos, numa vida comprimida a inúmeras limitações...


amilton



abraçosss


1 Response
  1. Kellen Says:

    Amilton,
    Tenho uma irmã psicóloga. E vejo que as pessoas acham que qdo se vai procurar um psicólogo é porque se está louco. E na verdade não é isso. Mas é muito difícil colocar isso na cabeça das pessoas....
    bjs