Dia do Dentista



       Hoje, 25 de Outubro, comemora-se o dia do Dentista. Nos versos de Drummond minha homenagem:



“ DENTADURAS DUPLAS ”


“ Dentaduras duplas !
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída.
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica ?...)

Resovin ! Hecolite !
Nomes de países ?
Fantasmas femininos ?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.

Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.

Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar ?
de âmbar ! de âmbar !
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida ! ”

Carlos Drummond de Andrade 
          

De pernas pro ar


   Quando aquele senhor entrou no consultório odontológico já era final de mais um dia de atendimento, de mais uma semana. 
   Nos cumprimentamos, virei-me para calçar o par de luvas e voltei minha atenção para ele. E foi aí que deparei-me com uma cena inusitada. O paciente estava deitado na cadeira odontológica com os pés em cima do encosto que deveria estar colocada a cabeça dele,ou seja,literalmente de pernas pro ar.
   Falei: "Senhor, desculpa, mas não conseguirei alcançar sua boca dessa forma...". E examinar os dedões dos pés dele estava fora de cogitação. E todos aqueles dedões voltados para meu rosto...
   Ele atrapalhou-se mais ainda, e uma sucessão de palavras desconexas foram soltas. E muitas,muitas desculpas aceitas e entendidas devidamente...
   Ele tinha 65 anos, era sua primeira visita ao consultório odontológico, até aí tudo bem.Mas acreditar que naquela posição eu conseguiria alcançar a boca dele, daí é uma outra história. Nem com todo o alongamento possível eu conseguiria tanta elasticidade. E começamos a rir, eu, ele e a auxiliar...
   E como hoje é sexta, esse último paciente encerrou a semana com risos,muitos risos. E como é bom rir...

 

O caso da maconha


   A alguns anos atrás um paciente de aproximadamente 30 anos chegou para aquela que seria sua última sessão no consultório odontológico.
   Durante todas as outras consultas ele sempre demonstrou demasiada impaciência alavancada pelo temor de sentar na cadeira odontológica.Numa vez ele chegou completamente embriagado alegando ter tomado uma única dose para a coragem "crescer", como ele mesmo enfatizou.
   Mas naquele último dia, aonde tudo parecia passar tão rápido e tranquilamente, ele chegou portando uma pequena sacola numa mão e na outra um pacote branco,pequeno e que foi colocado sobre a mesa a pedido dele.
  Terminado o atendimento ele saiu apressado carregando a sacola,mas horas depois a auxiliar notou a presença do pequeno embrulho branco. Curiosa ao extremo e alegando não saber do que se tratava ela abriu o pacote mal embrulhado e gritou: "Vixi doutor, tem é mato aqui!!!". Realmente um odor bem diferente invadiu o consultório...
   Fechamos o pacote,colocamos dentro de uma pequena caixa e continuamos o dia. Mas uma dúvida nos perseguia: "O que vamos fazer com isso,hein?!?", repetia a auxiliar inúmeras vezes.

   Final do dia, o pacotinho quase indo para o lixo, e para alívio geral no consultório o paciente retorna. Preocupado,foi logo falando: "Doutor, acho que esqueci um pacote com os remédios da minha mãe aqui".
   O pacote retornou para o seu dono,mas mal sabia ele que a curiosidade da auxiliar nos fez realmente saber que remédio a mãe dele fazia uso naquele momento.
   E ele saiu para nunca mais voltar...

O Aniversário de Joice


    O que leva uma mãe a simplesmente ignorar a idade de um filho? E até que ponto a culpa recai sobre ela?
    Uma jovem senhora de 30 e poucos anos levou sua filha de ''supostamente'' oito anos para tratamento odontológico. Sem documentos, sem nada que comprovasse a existência oficial da garota, a mãe se perdeu em datas e não se preocupou em dizer que não sabia, não lembrava a data de nascimento. A criança nem se quer havia sido registrada. Joice não é uma cidadã de fato, não consta nos dados oficiais de registro.
    Indagada sobre o descaso, a mãe se justificou dizendo que a criança era batizada e pronto, isso bastava, mas que não sabia mesmo o dia e nem o ano que Joice tinha nascido, talvez 2000, 2001,2002...
    Orientada a procurar o cartório e registrar a garota, a mãe desconversou.
    Diante de tantos problemas, talvez, de tantas dúvidas diárias que, possivelmente, passam pela fome, isolamento social e desamparo...  Talvez diante disso e de outros tantos fatores, a data de nascimento pode ser representada por cada dia, pelo ontem, pelo hoje, pelo amanhã suportado tão fortemente diante das adversidades.
   Não podemos julgar, nem marginalizar. Inúmeros são os obstáculos que muitos ainda enfrentam para se manterem vivos, e sobreviverem, assim...
   Joice não comemora aniversários, não recebe presentes, não espera ansiosa pelo dia que irá apagar as velas de seu bolo. Existe uma lacuna, existe um vazio a ser preenchido...

A Criança em mim...


   Contaminado pela saudosismo do dia das crianças, fui levado à pensar quanto ainda podemos crescer e aprender, não só fisicamente mas também intelectual e moralmente.
   Durante todo esse tempo escrevendo por aqui, muitas crianças me fizeram parar e pensar o quanto ainda preciso evoluir, o quanto ainda preciso aprender, crescer...
   Histórias de Ricardos, Marianas, Carlos e muitos outros encheram o blog de alegrias, sonhos, e muitas, muitas percepções da vida sob vários aspectos,e sempre, sob o olhar atento deles, os pacientes...
   E quando criança também somos levados a questionar, a crer no inimaginável, a sonhar...         
   Muitos colegas 
dentistas,principalmente os de minhas relações pessoais ,ainda alegam falta de tempo quando o assunto é compartilhar e aprender sobre a profissão ou vivência através de um espaço como este. Aproveito para compartilhar da inciativa do blog Markenting em Odontologia e seu MovimentoOdontologia na Internet, que visa integrar e atrair mais colegas para espaços como este.
   Criar um blog não é um bicho de sete cabeças, e não vai tomar tanto seu tempo assim. Confesso que eu pensava o contrário antes, mas fui contaminado pela ação benéfica de tudo que se compartilha por aqui.
   Você pode utilizar vários serviços gratuitos, como este que utilizo, Blogger,ou qualquer outro servidor e mandar ver. Basta ter paciência, pois no começo você precisará dela para estudar um pouco, caso não tenha familiaridade. Mas vale a pena!
   Então, nada melhor do que aproveitar o dia das crianças para começar... 

              amilton 
     

             


            

Superproteção


        Nos últimos dias, dois pequenos pacientes e suas mães, por vezes ''impacientes'', chamaram minha atenção.
        O primeiro tinha 13 anos e colado à ele estava a mãe cuidadosa ao extremo. Começou logo dizendo: ''Cuidado doutor com o 'reizinho', meu príncipe...''. E 'reizinho' era tímido ao extremo, não respondia nada que eu perguntava, e quando o garoto esboçava a possibilidade de falar algo, lá vinha a mãe superprotetora  falando, atropelando o coitado do garoto. Reizinho não era o nome dele, claro, mas o apelido carinhoso que a mãe adotou. E o garoto chorava por tudo, e quando cogitei a possibilidade da mãe sair do consultório odontológico e aguardar na sala de espera, foi, então, que reizinho mostrou-se ''rei''... Gritou, gritou, e era tanto pavor que parecia que o mundo iria acabar naquele momento. E a mãe então o acariciou, sentou ao lado dele e começou a chorar também. E eu no meio daquele melodrama todo...
       O segundo paciente chegou acompanhado da mãe, mas o próprio garoto de apenas 9 anos impediu a entrada dela no consultório odontológico. Extrovertido, e seguro do que estava falando, ele nem de longe lembrava ''reizinho'' de 13 anos. 
        Duas mães diferentes, duas concepções distintas na educação dos filhos.
        Saber dizer não é extremamente importante, e a criança tem que passar por isso, tem que aprender a superar desafios,e tudo  tem seu tempo...
                                Com o tema Pais superprotetores, filhos despreparados, o Jornal O Povo de Fortaleza publicou recente matéria abordando o assunto. Segundo a matéria, a superproteção é causada pela ansiedade dos pais e o resultado são filhos despreparados para lidar com a realidade. A criança superprotegida tende a ser mais inibida,e uma série de distúrbios emocionais e até físicos podem ser desencadeados.

          Da adolescência até a fase adulta, quem passa pela superproteção dos pais tende a ser mais ansioso, tirano, inseguro e até com menos resistência imunológica.


             amilton


Leia a matéria completa em O POVO on line.

Mudanças


     Mudanças são sempre benéficas, elas devem sempre nos acompanhar, assim, o novo nos coloca diante de inúmeras possibilidades.
     Depois de dois anos escrevendo por aqui, resolvi mudar muita coisa. Começando pelo nome do blog que há tempos eu tinha em mente alguns nomes,mas no final decidi pelo De Boca Aberta. No espaço aonde quem abre aboca é o Dentista,e conta tudo... O layout também mudou, e espero que vocês tenham curtido.
     Continuarei atento ao que me acontece diariamente, e que a cadeira odontlógica, assim como todos os pacientes que até lá chegam continuem inundando minha imaginação com seus dramas, alegrias, desejos, anseios...
     Que muitas histórias ainda possam surgir...

                  amilton




                       

idi